I SÉRIE — NÚMERO 72
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nestes 500 000, estarão muitos trabalhadores que perfilham a teoria da social-democrata. Mas também esses
vivem a dificuldade de levar para casa um rendimento abaixo do limiar da pobreza, ou seja, o garante da
dignidade humana.
Sr. Deputado, a verdade é tão simples quanto isto: temos de constatar que o Governo que o Sr. Deputado
apoia — e do qual também fez parte, num cargo onde podia ter tomado a dianteira da temática do salário
mínimo — seguiu o exemplo já iniciado pelo Governo do Partido Socialista de não cumprir o acordo de
concertação social, logo, de não aumentar o salário mínimo nacional, competência exclusiva do Governo.
Obviamente, o aumento do salário mínimo nacional decorre de uma negociação com os parceiros sociais,
mas a competência é exclusivamente vossa e seguiram esse mau exemplo.
Sr. Deputado, sabe tão bem como eu que para os trabalhadores terem um rendimento parecido com
aquele que tinham quando foi instituído o salário mínimo nacional teriam de ter hoje um salário muito próximo
ou talvez um pouco superior a 600 €, e sabe também que o salário que têm é de 485 € brutos, isto é, cerca de
433 € líquidos.
O que queremos saber é quando é que o salário mínimo vai ser aumentado e quais as contrapartidas. É
que ouvimos falar, nos últimos dias, que o patronato, para aumentar o salário mínimo nacional, quer
contrapartidas. Não percebemos quais nem como as vão propor, mas a sua opinião é hoje muito importante.
Pergunto: quando é que aumenta o salário mínimo nacional? Certamente, não será para 500 €, porque
esse era o valor que já devia haver em 2011, como bem sabe. Defendemos que o mínimo dos mínimos será
um salário, em 2014, de 545 € e o que lhe pergunto é qual é a sua opinião sobre isto.
Uma vez que tem uma posição privilegiada na ligação com o Governo, pergunto-lhe ainda quando virá esse
aumento.
Acredito, sinceramente, que, se tiver esta opinião, está com todos os trabalhadores, está com Portugal, que
é um País de trabalho, em que a maioria são, de facto, trabalhadores.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Roque.
O Sr. Pedro Roque (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Mariana Aiveca, agradeço as questões que
colocou e as palavras que me dirigiu.
Começo por dizer que, de facto, quando a Sr.ª Deputada vem propor 545 €, o Bloco de Esquerda converte-
se, efetivamente, na vanguarda da classe operária, porque até a CGTP, que é a CGTP, propõe 515 € e o
Bloco de Esquerda já vai nos 545 €.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — E vai bem!
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — A lei é do Governo!
O Sr. Pedro Roque (PSD): — Ironias à parte, não podemos perder de vista que há uma ligação entre a
competitividade do País e o valor dos salários, não só do salário mínimo mas de todos os salários que o País
pratica.
Não é por acaso que o salário mínimo num país como o Luxemburgo tem um determinado valor e em
países como, por exemplo, a Roménia ou a Bulgária tem um valor completamente diferente. De facto, aquilo
que se passa é que, durante a intervenção do Programa de Assistência Económica e Financeira, o
Memorando de Entendimento, que foi negociado ainda pelo Governo anterior e cujos termos são claros e
públicos, impedia o aumento do salário mínimo enquanto as condições económicas não o propiciassem.
O Sr. Luís Menezes (PSD): — É verdade!
O Sr. Pedro Roque (PSD): — De facto, durante muito tempo, tal não foi possível, mas com a chegada do
Programa ao fim e com a recuperação económica existem condições para que tal se verifique.