I SÉRIE — NÚMERO 72
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aposentação a muito breve prazo 100 elementos e mais 600 reúnem as condições até final de 2015,
redundando numa perda de efetivos de 25%, quando a população prisional cresce, e muito, todos os anos.
Sendo que o anúncio assumido pela Sr.ª Ministra de Justiça, com o aval do Ministério das Finanças, de
criar mais 400 vagas só vagamente responde a este grave problema, na verdade, o que é impossível de
compreender é que não tenha acontecido nada até ao presente. Tanto mais preocupante esta realidade,
quando as empresas de segurança privada já mostraram o seu apetite por chegar aos estabelecimentos
prisionais.
E esta semana foi o próprio Diretor-Geral dos Serviços Prisionais, Rui Sá Gomes, que reconheceu que o
investimento é o «possível», mas, mesmo assim, assumindo a falta de guardas prisionais e de técnicos de
reinserção social. Assumindo estas lacunas profundas, no plano dos recursos humanos.
Por todas as razões, Sr.ª Presidente, Sr.as
Deputadas e Srs. Deputados, pela dignidade humana, urge uma
resposta de fundo a todos estes problemas, uma resposta que tem sido adiada, porque a austeridade é, afinal,
o argumentário da sub-humanidade que se vive, hoje, nas cadeias portuguesas.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr.ª Deputada Cecília Honório, inscreveram-se, para pedir
esclarecimentos três Srs. Deputados: um, do Partido Socialista; outro, do PCP; e outro, do PSD.
Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Filipe Neto Brandão.
O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Cecília Honório, quero começar por
saudá-la pela escolha que o Bloco de Esquerda hoje fez para trazer alguma visibilidade a uma matéria, como,
aliás, referiu na sua intervenção, normalmente subtraída à atenção mediática.
Tal como referiu, e concordo com a sua observação, a dignidade de um Estado afere-se também pelo
modo como trata aqueles a quem, obviamente de modo legítimo, priva da liberdade.
O último relatório do Comité Europeu para a Prevenção da Tortura, como a Sr.ª Deputada bem sabe,
alertava para a gravíssima situação das prisões em Portugal. Deveria ter suscitado uma comoção nacional,
mas, como sabemos, não suscitou.
Mas se a situação era grave aquando da elaboração desse relatório, há uma mudança desde então:
aumentou significativamente o número de reclusos em Portugal. Neste momento, como a Sr.ª Deputada
referiu, e bem, temos um número record inaudito de presos que ultrapassa já os 14 000, vai a caminho dos 14
500, sendo certo que, só no ano de 2013 (a Sr.ª Deputada não referiu, mas recordo-lhe), o número de reclusos
aumentou para cerca de 700.
A Sr.ª Deputada não referiu, mas também recordo — aliás, recentemente, a Sr.ª Presidente da Assembleia
da República recebeu em audiência uma associação representativa dos guardas prisionais — que, entre
outros exemplos, temos no Montijo camaratas com 19 reclusos, que em Braga foram aumentadas, de uma
sexta para uma segunda-feira, 30 vagas apenas pela sobreposição de camas em altura.
Portanto, são expedientes que, obviamente, só contribuem para agravar a situação nas prisões.
A Sr.ª Deputada também referiu, e é justo enfatizar, que nas prisões os cortes na saúde atingem
verdadeiros dramas humanos, ou seja, se a situação dos cortes na saúde é aquilo que os portugueses
constatam, fácil é imaginar o que acontece quando se corta na assistência na saúde.
A Sr.ª Maria Antónia Almeida Santos (PS): — São cortes nos bens essenciais!
O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Concluo colocando uma pergunta.
A Sr.ª Deputada citou o Sr. Diretor-Geral dos Serviços Prisionais, Rui Sá Gomes, referindo-se ao concurso
que teria sido anunciado de 400 guardas prisionais. Quero apenas recordar-lhe, Sr.ª Deputada, que os
guardas prisionais que foram anunciados ou recordados pelo Sr. Diretor-Geral, esta semana, são exatamente
os mesmos 400 guardas prisionais que disse que eram urgentíssimos na audição da 1.ª Comissão, em
dezembro de 2013.
Face a esta inoperância confessa por parte dos responsáveis públicos, pergunto qual é a situação que o
Bloco de Esquerda preconiza e se está disponível para, no âmbito da Comissão de Assuntos Constitucionais,