I SÉRIE — NÚMERO 72
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sorte. Só por sorte é que ainda não aconteceu uma desgraça no sistema prisional, tal é a situação de
insustentabilidade que aí se vive. Os 400 guardas prisionais já são nossos velhos conhecidos, tantas vezes
ouvimos falar deles!…
Portanto, estamos a viver uma situação em que parece que há dois governos, ou seja, há uns ministérios
que têm muito boa vontade para resolver os problemas e, depois, há o Ministério das Finanças que não deixa
resolver problema nenhum. Ora, nesta matéria, também estamos a ser confrontados com esta dualidade de
governos, em que alguns ministérios, neste caso o Ministério da Justiça, procuram alijar as suas próprias
responsabilidades.
Tendo em conta o número guardas prisionais que vão abandonar o sistema nos próximos tempos por via
da reforma, mesmo que entrassem hoje os 400 guardas prisionais, para o ano já não colmatariam a situação
dos que vão sair. E o que acontece é que ouvimos falar deles sistematicamente mas eles não entram no
sistema, porque o Governo não assume as responsabilidades que tem relativamente ao sistema prisional.
Portanto, o que podemos dizer é: oxalá que não aconteça nenhuma desgraça no sistema prisional! Oxalá
que não aconteça!
Mas era importante que o Governo assumisse as responsabilidades que tem de assumir num setor tão
importante do ponto de vista da defesa dos direitos humanos como é o sistema prisional e cuja situação que
está a viver é, efetivamente, uma vergonha nacional.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Honório.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado António Filipe, com toda a consideração,
devo sublinhar a denúncia do próprio Sindicato quanto à falta de preservação de direitos mínimos da
população reclusa. A expressão é mesmo a de que as cadeias, hoje, são armazéns para empilhar pessoas.
Como bem disse, presos são muitos, falta tudo o resto. Faltam guardas prisionais, faltam técnicos
especializados, nomeadamente no quadro da reinserção social, foram efetuados cortes profundos no acesso à
saúde, como é o caso dos psicólogos… Tudo isto é absolutamente inaceitável.
O Sr. Deputado descreveu-nos uma situação, que sentimos quando olhamos para estes dados, quando
conhecemos esta realidade, quando conhecemos o testemunho dos guardas prisionais, quando conhecemos
o testemunho dos detidos e das suas famílias. Sabemos que tudo isto está muito perto de ser uma bomba-
relógio (talvez a expressão não seja a mais adequada, mas a verdade é esta.
O Sr. Deputado disse que só por sorte é que ainda não aconteceu nada. Vamos esperar que a sorte
continue, porque a situação é objetivamente explosiva. Vamos esperar, sim, Sr. Deputado. É certo que, para
além da sorte, contará a abnegação dos profissionais que estão no sistema e que, com enorme sacrifício das
suas vidas, face aos cortes, face à inexistência de recursos, devem fazer tudo e mais alguma coisa para
continuar a segurar o sistema nas condições em que ele se encontra.
Portanto, a situação é verdadeiramente inaceitável. Há meses que ouvimos dizer que vão abrir 400 vagas
para guardas prisionais, há meses que temos a garantia de que o Ministério das Finanças deu aval à criação
destas vagas e a verdade é que se passaram meses, a situação é dramática, é explosiva, e nada aconteceu.
De maneira que, Sr. Deputado, vamos fazer o que pudermos — e essa responsabilidade é de todos os
grupos parlamentares — no sentido de fazer um debate franco e, com os dados que são conhecidos,
pressionar o Governo a encontrar soluções urgentes face à situação dramática que se vive no interior dos
nossos estabelecimentos prisionais.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Hugo
Velosa
O Sr. Hugo Velosa (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Cecília Honório, ainda bem que trouxe esta
matéria hoje a Plenário.