12 DE ABRIL DE 2014
45
essa audição e esse debate na especialidade mais aprofundadamente. Houve pedidos de audiência dirigidos à
Assembleia sobre esta proposta que não se realizaram por manifesta falta de tempo.
O voto contra do PCP relativamente a esta proposta de lei não se resume à discordância face às opções de
processo legislativo, antes tem em conta desde logo as questões substanciais da estratégia e interesses de
classe das medidas e opções consagradas no diploma do Governo, com destaque para a lógica de total
desregulação dos mercados e atividades, tratando de forma igual o que é manifestamente diferente.
O Governo pretende a liberalização de horários como uma panaceia para o desemprego, colocando no
mesmo plano a cabeleireira que quer trabalhar mais uma hora ou a grande superfície de um grupo económico,
que passa a poder funcionar 24 horas por dia.
O Governo pretende a liberalização de saldos e de promoções, como se a capacidade económica de uma
microempresa fosse a mesma de uma cadeia multinacional de grande distribuição.
O Governo ignora a especificidade do setor da restauração e bebidas, arredando-o do regime do setor do
turismo e colocando-o no mesmo âmbito de setores com que nada tem a ver.
O Governo pretende acabar com a norma legal (que resultou de uma iniciativa do PCP há três anos) que
impede promiscuidades e incompatibilidades na atividade funerária. Com a proposta do Governo, os
proprietários de lares de terceira idade ou de empresas de transporte de doentes passam a poder realizar
funerais. Com a agravante de que tal norma, resultante da apreciação parlamentar promovida pelo PCP na XI
Legislatura, teve o apoio e participação do PSD e CDS, então na oposição. Esta duplicidade de posições
políticas, umas na oposição, outras no Governo, constitui um verdadeiro cancro do regime democrático.
Ao contrário do que o Governo afirma, não é nos horários, nos limites às incompatibilidades, nos
impedimentos à concorrência desleal que estão os obstáculos ao crescimento e ao desenvolvimento
económico mas, sim, na perda de poder de compra das populações, nos cortes dos salários, das pensões e
das prestações sociais e nesta política de favorecimento ao poder económico e de empobrecimento dos
trabalhadores e dos micro e pequenos empresários que este Governo continua a levar a cabo.
O Deputado do PCP, Bruno Dias.
——
O voto contra do Bloco de Esquerda funda-se, em primeiro lugar, nas consequências que o Novo Regime
Jurídico do Comércio, Serviços e Restauração terá para as pequenas empresas a trabalhar nestes setores,
em particular o pequeno comércio e o comércio tradicional; em segundo lugar, na forma como o Governo
procurou apressar e obstaculizar a discussão do novo Regime, que afetará de forma crucial setores
fundamentais para a economia e para a criação de emprego em Portugal.
Sobre o conteúdo da proposta: a liberalização do horário do comércio e dos serviços, bem como a
flexibilização da época de saldos, são exemplos de duas medidas que irão beneficiar os grandes grupos
económicos em detrimento do pequeno comércio e do pequeno negócio. São medidas que prejudicarão de
forma indelével os que não têm capital ou capacidade para fazer alargamento de horários ou saldos fora da
época que até agora era fixada.
O novo regime proposto trata ainda de forma igual e indiferenciada vários setores de atividade muito
diferentes entre si, não percebendo nem integrando nas suas medidas as especificidades dos setores,
nomeadamente o da restauração.
O Bloco de Esquerda mostrou-se contrário também à forma como o Governo evitou uma discussão séria e
responsável sobre este novo Regime Jurídico, apresentando-o sob a forma de uma autorização legislativa,
sem tempo para alterações em sede de especialidade. Recorde-se que estamos perante propostas que
incidem sobre 60% das empresas portuguesas, que têm sido alvo de críticas por parte dos municípios, de
associações da área da restauração ou da confederação de comércio.
Pela importância do tema e pelo impacto que as propostas do Governo terão, pelas dúvidas e críticas que
subsistem por parte dos setores diretamente afetados e pela importância dos setores do comércio, serviços e
restauração para a economia portuguesa, a discussão merecia outra seriedade, tempo e espaço.