17 DE ABRIL DE 2014
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O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: É cada vez mais evidente que a dívida pública
portuguesa, nas condições em que hoje se encontra, é insustentável. Por isso, o PCP apresenta hoje uma
nova proposta de renegociação da dívida pública. Uma proposta que visa libertar o nosso País do insuportável
fardo de mais de 7000 milhões de euros de juros anuais, devolver aos trabalhadores e ao povo português
aquilo que lhes foi roubado nos últimos anos e assegurar o direito de Portugal a um desenvolvimento soberano
e independente.
A renegociação da dívida pública deve ser precedida de uma auditoria que determine a dimensão completa
e rigorosa dessa dívida, identificando a sua origem e natureza e o tipo de credores. Uma auditoria que, sendo
realizada pelo Governo em articulação com o Banco de Portugal, deve ser acompanhada de perto por um
grupo de missão criado pelo Conselho Económico e Social, envolvendo personalidades de reconhecida
competência e mérito.
Uma renegociação da dívida que envolva a redução dos montantes, o alargamento significativo dos prazos
— incluindo a possibilidade de uma moratória — e a diminuição das taxas de juro, limitando o serviço anual da
dívida a 2,5% do valor das exportações.
Uma renegociação da dívida que não envolve os pequenos aforradores, a segurança social, o setor público
administrativo e empresarial, assim como os setores cooperativo e mutualista. Uma renegociação da dívida
determinada pelos interesses do País e dos portugueses e não a favor dos credores.
A proposta do PCP de renegociação da dívida não surge como uma proposta isolada. Insere-se num
programa político de rutura com o atual rumo de desastre nacional. Uma renegociação que identifica as
causas e os responsáveis pela dimensão colossal da dívida, pública e privada, na política de direita levada a
cabo nos últimos 37 anos pelo PS, pelo PSD e pelo CDS, que se traduziu num processo de
desindustrialização e de desvalorização das pescas e da agricultura, no abandono do aparelho produtivo, nas
privatizações dos setores básicos e estratégicos da economia, nacrescente «financeirização» da economia e
na submissão às imposições da União Europeia e dos grandes grupos económicos e financeiros nacionais e
transnacionais.
Uma renegociação da dívida que assume a necessidade da diversificação das fontes de financiamento do
País, que defende a alteração dos estatutos do Banco Central Europeu, permitindo-lhe financiar diretamente
os Estados, que questiona o Banco Central Europeu, a União Europeia, o FMI e os mecanismos que
transformam a dívida privada em dívida pública e esta num dos mais lucrativos negócios da banca.
Uma renegociação da dívida inseparável de outros eixos da política patriótica e de esquerda que o PCP
propõe ao povo português: a valorização do trabalho e dos trabalhadores; a defesa dos setores produtivos e
da produção nacional; a afirmação do papel do Estado na economia e a efetiva subordinação do poder
económico ao poder político; a defesa e o reforço das funções sociais do Estado, na saúde, educação e
segurança social; a defesa do regime democrático de Abril e o cumprimento da Constituição da República, e a
afirmação de um Portugal livre e soberano numa Europa de paz e cooperação.
A proposta do PCP de renegociação da dívida, apresentada pela primeira vez há três anos, em 5 de abril
de 2011, era, como hoje continua a ser, uma alternativa ao Programa da troica. Um Programa que, usando
como pretexto a redução da dívida e do défice orçamental, visava garantir que aqueles que tinham especulado
com a dívida pública portuguesa receberiam até ao último cêntimo o produto da sua agiotagem e ainda
garantir a redução dos rendimentos e a liquidação de direitos dos trabalhadores e do povo, assim como a
concretização da velha aspiração da direita de reconfigurar o Estado, colocando-o de forma ainda mais
profundaao serviço dos grandes grupos económicos e financeiros.
A rejeição da proposta do PCP e a assinatura do pacto de agressão da troica, pouco tempo depois, pelos
partidos do arco da dívida — PS, PSD e CDS — lançou o País no mais longo período de recessão da nossa
história recente, agravou drasticamente a exploração dos trabalhadores, levou à destruição de meio milhão de
postos de trabalho e à falências de milhares de micro e pequenas empresas, empurrou largas camadas da
população para a pobreza e forçou à emigração mais de 200 000 portugueses. Três anos depois da assinatura
do Pacto com a troica, Portugal e os portugueses estão indiscutivelmente pior.
A Sr.ª Presidente: — Peço desculpa, Sr. Deputado, não é bom para os oradores serem interrompidos, mas
há um ruído na Sala que torna muito difícil ouvir o orador.
Pedia, pois, aos Srs. Deputados que tivessem cuidado, porque o ruído está, de facto, muito forte.