I SÉRIE — NÚMERO 75
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Sabemos que vários são os exemplos mais chamados para dar conta de uma melhoria necessária ao
sistema. Entre administradores, gestores, consultores e advogados, são vários os que hoje podem estar, de
manhã, no seu escritório de advogados a fazer leis defendendo interesses privados, e que, depois, as trazem
à Assembleia da República e as defendem aqui em nome desses interesses privados mas com um mandato
que é público e que foi dado para defender o interesse público.
Ora, essa suspeição decorre de não haver ainda um regime de incompatibilidades e impedimentos que
impeça esta situação. Sobre este tema o Bloco de Esquerda já apresentou um conjunto de iniciativas no
passado, mas acreditamos que é necessário agora dar o passo seguinte, o passo que responda ao clamor de
exigência de transparência que a democracia nos pede neste momento.
O passo seguinte é aumentar a exigência no desempenho do cargo de Deputado exatamente para o
mesmo nível de exigência que se pede a um membro do Governo, a um presidente da República ou a um juiz
— que exerça o cargo em regime de exclusividade. É esta a exigência da democracia.
Aplausos do BE.
Sabemos que são várias as vozes que defendem esta posição. Essas vozes não se esgotam na bancada
do Bloco de Esquerda, cujas Deputadas e Deputados têm, desde o início, exercido os seus mandatos em
regime de exclusividade, são bastante mais alargadas, não só entre Deputados das bancadas da Assembleia
da República mas também, temos a certeza, e os ecos públicos dão conta disso, refletem a opinião maioritária
do País, daqueles que olham para a democracia e que pedem mais — mais compromisso dos eleitos para
com os eleitores e menos promiscuidade entre os interesses públicos e os interesses privados.
Por isso, trazemos aqui uma proposta no sentido da exclusividade, a exemplo daquilo que já foi seguido
noutros espaços de igual importância. Nomeadamente, em Espanha, na comparação que é possível fazer, o
regime de exclusividade está a ser aplicado. No Parlamento Europeu, para o qual realizar-se-ão eleições daqui
a pouco mais de um mês, é exatamente esse o regime que está a ser aplicado.
Portanto, pretendemos nada mais, nada menos do que a mesma responsabilidade para eleitos que têm as
mesmas funções; nada mais, nada menos do que para o órgão de soberania Assembleia da República o
mesmo respeito que existe para outros órgãos de soberania nacionais.
Este é um debate para hoje, não para deixar para amanhã. Sabemos que alguns dirão que isto é
eleitoralismo e que tentarão minorar a proposta não pela qualidade da mesma mas, sim, pelo contexto em que
é apresentada. Contudo, Sr.as
e Srs. Deputados, não nos desviemos do essencial. E o essencial é a exigência
que aqueles que nos elegeram têm para connosco, de saberem que temos de estar cá para os servir a tempo
inteiro e com dedicação exclusiva; não podemos estar aqui a tempo parcial e com interesses dúbios. O
mandato de um Deputado ou de uma Deputada é para com aqueles que o elegeram e deve ser feito com total
exclusividade, disponibilidade e atenção para quem o elegeu.
Outros dirão que este caminho poderá levar à profissionalização do Parlamento. Errado. Não é por existir
um regime de exclusividade dos membros do Governo ou da Presidência da República que existe uma crítica
dos profissionais do Governo ou dos profissionais presidentes da República. Não é por isso, pelo que
rejeitamos que a mesma crítica possa ser utilizada demagogicamente quanto à Assembleia da República.
Sr.as
e Srs. Deputados, a exigência, o desafio e o apelo que deixamos é no sentido da ética republicana, da
total transparência dos eleitos e do compromisso dos eleitos com os seus eleitores.
O desafio que deixamos para todas e todos que se libertem quer dos grilhões partidários quer dos grilhões
das suas bancadas parlamentares é que hoje aqui possamos dizer que damos tolerância zero à
promiscuidade entre interesses públicos e interesses privados, que hoje aqui damos tolerância zero à
promiscuidade que não deveria existir no século XXI na democracia portuguesa.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para apresentar o projeto de lei do PCP, tem a palavra o Sr.
Deputado João Oliveira.