I SÉRIE — NÚMERO 78
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segurança social e à saúde; a generalização das pensões de reforma e do subsídio de desemprego, e,
sobretudo, ganhámos o direito a sonhar com um futuro melhor. O sonho de um País livre, com justiça social,
pautado por um desenvolvimento sustentável e de preservação dos recursos naturais.
40 anos depois de 74, Portugal é um País melhor, sem dúvida, mas o percurso de lá até aqui, com
particular enfoque nos últimos três anos, deixa-nos fortes motivos de preocupação.
Abril está a perder força! A procura da justiça social está a ser descaradamente abandonada e o Estado
social está a ser intencionalmente destruído. A fome espreita já em muitos lares portugueses. E se em cada
esquina tínhamos um amigo, agora, em cada esquina, temos duas pessoas sem trabalho.
Volta, assim, a ganhar cada vez mais atualidade a música do Sérgio quando nos diz: «somos tantos a não
ter quase nada, porque há uns poucos que têm quase tudo».
Mas isto nada tem a ver com Abril, pelo contrário, tem a ver com as opções dos vários Governos dos
últimos 38 anos, que, intencionalmente ou não, se foram afastando dos ideais de Abril, que, aos poucos,
acabaram por vender a nossa produção, destruíram a nossa economia e empobreceram os portugueses.
O resultado das políticas desses Governos, sobretudo do atual Governo PSD/CDS, está à vista: o
desemprego atinge números nunca vistos; metade das pessoas desempregadas não tem acesso a qualquer
apoio social; transformou-se o direito ao trabalho num favor da entidade patronal; corta-se nas prestações
sociais; corta-se nos salários e nas pensões; impõe-se um brutal aumento de impostos; a justiça é só para
alguns; a saúde passou a ser um luxo e o transporte de doentes uma miragem; a educação é só para quem
tem capacidade económica; transformam-se os jovens licenciados em emigrantes; transformam-se empresas
do Estado, que dão lucro, em negócios chorudos para o sector privado; transformam-se cidadãos com direitos
em clientes com necessidades que se satisfazem no mercado; agravam-se as problemáticas ambientais;
deixa-se a nossa costa à mercê do clima e da agitação marítima; procura-se mercantilizar recursos
fundamentais à vida como a água; privatiza-se a EGF, deixando fora do controlo democrático o setor dos
resíduos, que é um sector estratégico e fundamental para o País, para a saúde, para a qualidade de vida das
pessoas e para o equilíbrio ambiental, e que é um grupo rentável com lucros acumulados nos últimos três
anos da ordem dos 62 milhões de euros. Um verdadeiro monopólio natural!
A remoção do amianto não passa de um manto de promessas vãs; transforma-se a política de conservação
da natureza numa oportunidade de negócio; levam-se os baldios aos compartes; extinguem-se freguesias e
desrespeita-se a autonomia do poder local.
E, já que não multiplicam o pão, multiplicam a pobreza, que atinge hoje níveis nunca vistos depois da
Revolução. A pobreza não para de aumentar, como não para de crescer a injustiça na distribuição da riqueza.
Mais de 40% dos desempregados e 11% dos empregados são pobres e o risco de pobreza entre os menores
de 18 anos é atualmente de 24%.
Aumenta o fosso entre os mais ricos e os mais pobres, sendo que há dois milhões e meio de portugueses
em risco de pobreza, em virtude do desemprego, dos salários baixos, da carga fiscal e dos cortes nas
pensões.
Hoje, em Portugal, empobrecesse a trabalhar!
Do outro lado, estão os milionários, que, apenas num ano, aumentaram as suas fortunas em 17%.
E aqui ficam alguns exemplos dos lucros das grandes empresas no ano de 2013: Portucel — 210 milhões
de euros; Galp — 310 milhões de euros; Sonae — 319 milhões de euros; Jerónimo Martins — 382 milhões de
euros, BES — 517 milhões de euros; EDP — 1005 milhões de euros.
Recordo que estamos a falar dos lucros de 2013, um ano de crise para a generalidade dos portugueses;
quanto a 2014, estas empresas ainda vão beneficiar da baixa do IRC que o Governo concedeu às grandes
empresas.
De facto, a arrogância do poder financeiro, que condena à pobreza e à exclusão social grande parte da
população portuguesa, traz-nos à memória os Vampiros do Zeca: «Eles comem tudo e não deixam nada».
No meio de todas estas injustiças, os catequistas da austeridade, do empobrecimento, dos cortes e dos
ajustamentos, falam de sinais positivos, do milagre económico, de previsões otimistas, do crescimento
económico, mas, com tanta conversa, a verdade é que os portugueses continuam a empobrecer, a verdade é
que a austeridade está a encurtar a vida dos mais velhos e a forçar a emigração dos mais novos, está a
aumentar o horário de trabalho e a colocar as pessoas a trabalhar mais anos e a receber menos da reforma.
Com tanta austeridade e com tantos sacrifícios é oportuno perguntar: o que é feito do dinheiro?