26 DE ABRIL DE 2014
7
Senhoras e Senhores, faço parte de uma geração que já nasceu e cresceu em democracia. Não é por
saudosismo que falo de Abril, é por vontade de futuro. E um futuro feito de inevitabilidades é uma fraude, não
há democracia sem escolha. Quando nos dizem que, independentemente do que escolhermos, o nosso futuro
a 20 ou 30 anos já está decidido, é a própria democracia que estão a colocar em causa.
Se Abril nos ensinou algo foi que o mais impossível, uma revolução, pode ser criado pela vontade popular.
Celebrar a Revolução é lembrar cada tijolo com que se construiu a liberdade e, com ela, a democracia.
Alguém se atreve então, na evocação desse dia luminoso, a dizer que este País deve desistir de ser
soberano na sua democracia? Alguém se atreve a dizer que é nossa condição eterna obedecer aos humores
dos credores e dos mercados?
Hoje, aqui, usamos a voz que Abril nos deu para dizer que Constituição do nosso povo, os seus direitos, a
sua soberania para escolher o futuro não são hipotecáveis às mãos dos mercados.
Como na canção: «Viemos com o peso do passado e da semente / Esperar tantos anos torna tudo mais
urgente / E a sede de uma espera só se estanca na torrente»
A esta torrente, a esta semente, a esta urgência, a este povo e a esta gente chamamos liberdade.
Viva a democracia! Viva o 25 de Abril!
Aplausos do BE, do PCP, de Os Verdes e de alguns Deputados do PS.
A Sr.ª Presidente da Assembleia da República: — A próxima intervenção é do Partido Comunista
Português, pelo Sr. Deputado Jerónimo de Sousa.
Tem a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr. Presidente da República, Sr.ª Presidente da Assembleia da
República, Sr. Primeiro-Ministro e demais Membros do Governo, Srs. Presidentes do Supremo Tribunal de
Justiça e do Tribunal Constitucional, Srs. Deputados, Sr.as
e Srs. Convidados: 40 anos, sendo um tempo curto
na história de um povo, é um tempo largo nas nossas vidas, que permite extrair lições e ensinamentos sobre o
ato e o processo mais moderno e avançado da nossa história contemporânea, a Revolução de Abril.
Ato de libertação e processo de transformação, realização, conquista e participação, não esquecendo
nunca o País que tínhamos resultante do regime fascista de quase meio século de opressão, que usava a
violência contra o povo não por sadismo mas, antes, como instrumento repressivo de proteção e sustentação
da ditadura terrorista dos monopólios e latifúndios.
Guerra, isolamento internacional, atraso económico, social, cultural e civilizacional, analfabetismo,
emigração em massa, liberdades individuais e coletivas juguladas, desigualdade entre homens e mulheres,
com um povo sofrido mas de onde emergiam os lutadores, comunistas e outros democratas e patriotas, que,
passando por terríveis provações, com muitos anos de prisão, perseguição e repressão, apesar das feridas e
cicatrizes, sabiam que resistir era já vencer, mesmo sem saber em que data seria essa vitória.
Aconteceu naquela madrugada de Abril de 1974. Corajosamente, um sector das Forças Armadas,
determinado pelos capitães para quem o povo e as instituições democráticas têm uma dívida de gratidão,…
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
… inicia um levantamento militar de desfecho imprevisível imediatamente apoiado e secundado por um
levantamento popular.
Esta fusão operacional e original do povo e das Forças Armadas foi decisiva porque, sem iniciativa popular,
o movimento militar não venceria, tal como o movimento popular sozinho não teria êxito.
Movimento popular que quis afirmar, de forma inequívoca, o seu apoio à Revolução logo nas primeiras
horas, mas, particularmente, naquele primeiro 1.º de Maio em liberdade convocado pela Intersindical Nacional
e que encheu as ruas e praças das vilas e cidades.
A consigna Povo-MFA não foi uma consigna imaginada em gabinetes por estrategas militares ou por
políticos imaginativos, mas o reconhecimento, aprovação e definição de um desenvolvimento real e concreto
do processo de conquista da liberdade e da democracia e sua instauração e institucionalização com a
Revolução de Abril.