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I SÉRIE — NÚMERO 78

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Digo-o, nesta tribuna, pertencendo a uma geração que já nasceu em liberdade, cresceu em democracia e

se habituou a viver num Portugal europeu.

Sr. Presidente da República, Sr.ª Presidente da Assembleia da República, Minhas Senhoras e Meus

Senhores: Nasci em democracia, em 1975. Nesse momento, Portugal ainda vivia o processo revolucionário.

Era um tempo de incertezas, vivido entre ilusões e desilusões, acertos, erros e desvarios, sonhos e excessos.

Tempos e momentos em que ainda se procurava o caminho da verdadeira democracia.

Não conheci a guerra de África, nunca enfrentei a censura, não sei o que é viver com medo nem sei o que

é viver sem liberdade. Sem liberdade de pensar, sem liberdade de falar, sem liberdade de participar, sem

liberdade de escolher, sem liberdade de discordar, sem liberdade de construir, sem liberdade de criar e, até,

sem liberdade de sonhar.

A liberdade, para a minha geração, é um valor natural, mas nem por isso, ou talvez até por isso, deixa de

ser importante protegê-la.

Faço parte de uma geração que encara o 25 de Abril com naturalidade. Com a naturalidade de quem

beneficiou do seu momento fundador e de quem tem consciência da alteração do conceito estratégico nacional

que nesse momento aconteceu.

Uma geração que ganhou mundo no mundo com a livre circulação de pessoas; uma geração que caminha

pelo mundo global da língua portuguesa com amizade entre povos e respeito pela soberania dos Estados que

partilham uma língua e uma cultura universais; uma geração que sabe que a vocação europeia de Portugal

não é certamente estranha ao mais antigo Estado-Nação com fronteiras estáveis na Europa, mas que sabe

igualmente que para a identidade e futuro de Portugal há mais mundo além da Europa e o mar foi e será

sempre o nosso ponto de partida.

Sr. Presidente, Minhas Senhoras e Meus Senhores: Teixeira de Pascoaes dizia que «ser português é uma

arte, uma arte que se aprende a partir das raízes». Uma arte, há que dizê-lo com orgulho e atitude positiva,

que assumimos como herança e que temos obrigação de transmitir como legado.

Por isso mesmo, falemos também com franqueza do Portugal em que vivemos hoje.

Nos últimos 3 anos, a partir do resgate, Portugal viveu em regime de exceção.

A dependência dos credores retirou-nos autonomia política, a urgência financeira secundarizou muitos

outros aspetos da nossa vida e estamos a poucas semanas de recuperar, com dignidade, muito esforço e

sacrifícios, a parcela de soberania que a dívida nos tirou. Terminar a exceção também é resgatar a nossa

liberdade!

Do ponto de vista económico, o resgate trouxe uma inevitável e dura recessão e o problema da dívida

entrou, bruscamente, em casa das pessoas sob a forma de impostos ou desemprego.

Estamos já em tempo de viragem para um ciclo de crescimento; só esse crescimento será capaz de gerar

emprego, temos as contas públicas mais equilibradas e só esse equilíbrio permitirá a necessária moderação

fiscal.

Do ponto de vista social, foi fundamental procurar manter a coesão social, apesar de todas as dificuldades,

e, progressivamente, devemos começar a corrigir as injustiças que o tempo do resgate causou.

Sabemos que é preciso olhar para as questões estruturantes do futuro, como a demografia, e temos de ser

capazes de continuar a proteger os mais pobres entre os mais velhos.

Mas é também importante uma nova atitude, uma atitude pela positiva, que reconheça, com lucidez, aquilo

que hoje ainda é fonte de frustração, desilusão e até de afastamento, mas uma atitude mobilizadora capaz de

unir em nome do que Portugal tem de muito bom, capaz de mobilizar para aumentar o nosso potencial, capaz

de reformar para modernizar e capaz de corrigir para não vivermos novamente em tempos de aflição.

Não há um único português que deseje voltar a viver as condições que determinaram a emergência, o

resgate e, muitas vezes, demasiadas vezes, o sofrimento.

Depois deste tempo de emergência, tenhamos a inteligência de abrir caminho a um ciclo de compromisso.

Um ciclo de compromisso sobre como garantir a sustentabilidade das nossas políticas públicas; um ciclo de

compromisso sobre como reformar o Estado social para o preservar e defender; um ciclo de compromisso

sobre como desenvolver as políticas que fomentem mais crescimento económico, mais emprego e mais

natalidade.