26 DE ABRIL DE 2014
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Bom, aqui fica uma ajuda: 12 000 milhões foram para a banca; 7300 milhões por ano são pagos em juros
da dívida; 1045 milhões são concedidos em benefícios fiscais, só em 2013; 850 milhões são para pagar os
encargos com as parcerias público-privadas; 1008 milhões em contratos swap; 7000 milhões para o BPN e
mais uns milhões para os submarinos.
Abril transformou o País para melhor. Muito melhor! Houve uma mudança estrutural e material. Mas se hoje
estamos como estamos, devemo-lo às políticas dos Governos, que nestes 38 anos foram muitos, é verdade,
mas os partidos que os apoiaram foram só três.
O poder dos mercados não pode estar acima do poder do Estado. Os mercados estão a tentar expulsar o
Estado da economia e a mercantilizar o Estado social e os Governos têm vindo a permiti-lo.
Abril nada tem a ver com isto e, portanto, é justo que os portugueses penalizem em futuros atos eleitorais
os partidos responsáveis pela situação. Já que o Governo não muda as políticas, os portugueses deveriam ter
oportunidade de mudar de Governo.
40 anos depois é altura de os portugueses exigirem o reencontro com os valores de Abril e exigirem um
Governo que respeite a Constituição.
Viva o 25 de Abril!
Aplausos de Os Verdes, do PCP e do BE.
A Sr.ª Presidente da Assembleia da República: — A próxima intervenção é do Bloco de Esquerda, pela
Sr.ª Deputada Mariana Mortágua.
Tem a palavra, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente da República, Sr.ª Presidente da Assembleia da
República, Srs. Presidentes do Tribunal Constitucional e do Supremo Tribunal de Justiça, Sr. Primeiro-Ministro
e demais Membros do Governo, Srs. e Sr.as
Deputados, Sr.as
e Srs. Convidados: A minha geração não
conheceu outro regime que não a democracia de Abril. Não habitámos esse não tão longínquo País de uma
ditadura imposta por um regime fechado, violento e corrupto, mas devemos tudo a quem se lhe opôs e trouxe
para Portugal o século XX.
Eu e tantos que não viveram durante esse longo março, devemos tudo, mas mesmo tudo, às mulheres e
aos homens que tiveram a coragem de desafiar o medo e desejar uma revolução. Essas pessoas devem por
isso ser lembradas e respeitadas. Respeitadas porque não se deve nem se pode viver sem memória, mas,
sobretudo, porque é assim que Portugal se encontra consigo próprio neste dia.
Antifascistas, revolucionários românticos, ex-presos políticos, sindicalistas da resistência, soldados,
Capitães de Abril, queremos saudar-vos. A vossa voz merecia ser ouvida, aqui e hoje, porque é a voz de todos
os que vos devem a voz. Assim se faria a mais notável democracia, sem tutelas nem complexos, juntando o
passado e o presente de um País que nos exige a responsabilidade da memória.
Não nos faltam, no entanto, excelentes razões para festejar esse tempo de mudança que foi a revolução.
Ela venceu o regime que subjugava os povos colonizados, que protegia afilhados, promovia torcionários e
distribuía o resultado daquilo que era produzido por todos a um punhado de financeiros e de industriais
situacionistas.
Ela venceu o regime que promovia o analfabetismo e condenava milhões à indigência, que condenava as
mulheres a uma cidadania de segunda e os homossexuais a cidadania nenhuma, que fazia um Estado forte na
polícia política, na censura e na guerra, mas fraco na cultura, na saúde e na educação.
Ela, a Revolução, venceu a ladainha que dizia que a honra vinha da pobreza, da submissão e do temor.
Abril atingiu a casta dominante que se alimentava e era alimentada pela ditadura, fez mossa nos seus
privilégios, no seu direito de explorar e oprimir um País, criou uma democracia, trouxe a pluralidade das
escolhas, o confronto de ideias e trouxe futuros possíveis, mas não só: empenhou-se na ideia que a
democracia e a liberdade se forjam na igualdade, na justiça e na solidariedade e, com base nessa ideia,
construiu o Serviço Nacional de Saúde, a escola pública, a proteção social, a decisão coletiva sobre os bens
públicos e esse é o enorme Portugal de Abril de que nos orgulhamos.
Bem sei que há hoje quem se desencante com o que foi feito deste País de Abril. Afinal, renderam a nossa
democracia à ditadura dos mercados e é em seu nome que governam. Merkel locuta est, causa finita est! Se