I SÉRIE — NÚMERO 80
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A questão que aqui hoje debatemos tem a ver com o seguinte: fecha a escola, fecham os correios, fecha o
centro de saúde, fecha a repartição de finanças, fecha o tribunal. Enfim, por que é que os senhores não
apresentam um decreto-lei para fechar o interior do País? Este é o debate que aqui fazemos hoje.
Vozes do BE: — É uma vergonha!
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Nesse sentido, não é inocentemente que olhamos para o mapa e
reconhecemos que os distritos mais afetados com o encerramento e a desvalorização dos seus tribunais são
Vila Real e Viseu, entre outros. Há uma opção de prejudicar o interior do País e as populações mais isoladas.
Mas, relativamente a Faro, onde fecha o tribunal de Monchique, que serve populações da serra,
populações idosas que vêm das aldeias e que agora vão passar a ter de ir ao tribunal de Portimão, pergunto
(aliás, já fiz esta pergunta de uma forma muito insistente): com que custos? Porquê? Quem paga estas
deslocações, o prejuízo destas populações?
Neste sentido, este é o debate que fazemos: esta opção prejudica o acesso das populações aos tribunais,
sobretudo das populações mais isoladas e mais idosas.
Mas há um segundo problema que devemos discutir com seriedade. É que reformas desta natureza exigem
tempo, diálogo, consensos, dinheiro e recursos humanos e técnicos à altura. Isto é tudo o que estas reformas
exigem e é o que não há — não há, nem haverá!
E dentro dos ziguezagues dos números que foram sendo apresentados e que estão agora em anexo neste
Decreto-Lei, quero chamar a atenção para tudo aquilo que falta para que esta reforma tenha «pernas para
andar» no dia 1 de setembro: faltam magistrados; faltam juízes; faltam procuradores; faltam funcionários em
todas as suas vertentes de especialização (só para o Ministério Público faltam, pelo menos, 500); faltam
meios, nomeadamente meios informáticos, para garantir a distribuição dos 3,5 milhões de processos, que
devem ser transitados para as novas comarcas, quer no plano físico quer no plano eletrónico; falta formação
de todos os agentes envolvidos neste processo e meios para garantir essa formação; falta clareza nos critérios
de nomeação dos juízes (pelo menos, é o exemplo que temos da nomeação de alguns juízes) para os
tribunais de comarca; falta consenso sobre o modelo tripartido de gestão destes tribunais (matéria que, pelos
vistos, o PS já esqueceu e sobre a qual fez um branqueamento) e a turbulência que este modelo causa. Falta
tudo! Além disso, há imensa desconfiança, há imensa insegurança.
Na verdade, sobre esta matéria, sobre o mapa judiciário, Sr.ª Ministra da Justiça, o Governo foi um
excelente aluno da troica, um aluno muito abnegado, fez os trabalhos de casa. Corre é o risco de, em
setembro, não passar no exame.
Aplausos do BE.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Vai passar agora em maio!
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Teresa Leal
Coelho.
A Sr.ª Teresa Leal Coelho (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, quero cumprimentar a Sr.ª
Ministra, a Sr.ª Secretária de Estado e o Sr. Secretário de Estado e, em nome do Grupo Parlamentar do PSD,
os autarcas aqui presentes e os representantes da Associação Nacional de Municípios Portugueses. Dirijo-me
à Sr.ª Ministra para louvar o facto de a Sr.ª Ministra ter assumido a responsabilidade, que a ação governativa
tem, de desempenhar aquilo que são as tarefas que se impõem para assegurar os direitos dos cidadãos.
O direito de acesso à justiça é efetivamente um direito crucial. E este Governo tem erigido a promoção de
reformas estruturais no patamar da justiça de tal forma que o paradigma está a ser reconfigurado para que se
possa oferecer aos cidadãos uma justiça mais justa, mais próxima, mais equitativa. E é exatamente nessa
reforma estruturante do paradigma da justiça que estas alterações do mapa judiciário se integram.
Vozes do PSD: — Muito bem!