I SÉRIE — NÚMERO 89
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O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — Mas, fundamentalmente, queria dizer o
seguinte: não podemos ignorar que uma coisa é votar para o Parlamento Europeu e outra é votar nas eleições
legislativas.
Em segundo lugar, não podemos também retirar da abstenção e do voto que foi formulado pela positiva
uma qualquer indicação concreta que seja acerca do projeto de governo, diferente deste, que poderia
eventualmente estar na mente daqueles que votaram. É um absurdo total pretender fazer essa inferência.
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Muito bem!
O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — Para além disso, vale a pena meditar que a
abstenção não deixa nenhum partido imune. Não deixou o PSD, não deixou o PS, não deixou o CDS, mas
também não deixou o PCP, nem o Bloco de Esquerda, como, aliás, é reconhecido pelo cotejo dos resultados.
O Sr. João Oliveira (PCP): — A nós a abstenção fez-nos aumentar os votos, o que foi diferente da maioria!
O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — Assim sendo, todas as considerações feitas
não têm o mínimo fundamento nos resultados da votação feita no último domingo.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Junqueiro.
O Sr. José Junqueiro (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Ministros e Srs. Secretários de
Estado, Sr.as
e Srs. Deputados: O debate desta moção de censura revela duas coisas por parte dos partidos
da maioria. Uma primeira é a de que, desde o princípio ao fim, tiveram a tentação de condicionar o voto da
bancada parlamentar do Partido Socialista. Mas os senhores já não enganam ninguém, os senhores vão ser
censurados pelo Partido Socialista, e será esse o voto do Partido Socialista.
Protestos do PSD e do CDS-PP.
Em segundo lugar, queria lembrar que também sei bem que é distinta uma eleição para o Parlamento
Europeu de uma eleição legislativa. Mas talvez o Sr. Vice-Primeiro-Ministro, Paulo Portas, possa explicar por
que é que, em função desses resultados, há cinco anos, apresentou exatamente aqui uma moção de censura.
Gostava de ouvir.
Aplausos do PS.
Sr. Primeiro-Ministro, o Governo nunca gostou de dialogar e de estabelecer compromissos. O Governo fez
sucessivos memorandos nas costas desta Assembleia da República. O Governo fez um documento de
estratégia orçamental nas costas da Assembleia da República. O Governo quis dar nota de que queria fazer
uma reforma do Estado e, hoje, todos sabem que isso não era mais do que um programa de cortes nos
salários e nas pensões, nos rendimentos das pessoas.
O Sr. Primeiro-Ministro esteve sempre num estado de negação completo, incapaz de ouvir, inclusive as
propostas feitas pelo Secretário-Geral do PS, feitas pelo Partido Socialista. O Sr. Primeiro-Ministro
desacreditou do Banco Central Europeu, desacreditou do financiamento à tesouraria e à internacionalização
da economia, desacreditou da mutualização da dívida. O Sr. Primeiro-Ministro desacreditou de soluções reais
para problemas reais do País em que vivemos.
Aplausos do PS.