31 DE MAIO DE 2014
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Não deixa de ser uma coincidência que este debate aconteça no dia seguinte ao Governo ter aberto, em
sede de concertação social, uma negociação séria para melhoria do salário mínimo nacional, congelado desde
o anterior Executivo.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Vice-Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, seguindo um velho preceito do
seu líder histórico, que pregava algo assim como a firmeza na ideologia e a flexibilidade na tática, o PCP
decidiu apresentar uma moção de censura não tanto para censurar o Governo, mas, como todos percebemos,
para enredar o Partido Socialista.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Falso!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Não fuja das suas responsabilidades! É nisso é que o senhor é bom!
O Sr. Vice-Primeiro-Ministro: — Não espanta que o PCP o faça. Pasma, no entanto, a forma como o PS,
um dos dois maiores partidos na Câmara, se deixou enredar.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Vice-Primeiro-Ministro: — Pouco interessa aqui a questão tática. É evidente que, no campeonato da
iniciativa, o PCP ultrapassou e quis embaraçar o PS. Mas recordemos a primeira premissa de Álvaro Cunhal:
na ideologia não ceder, seja qual for a realidade. Ora, é no mínimo subtil e de difícil compreensão num partido
de governo esta ideia de que derrotar ou manter o executivo é uma questão de consciência. Onde fica, então,
a representação política nesta Câmara?
É ainda mais barroco e esforçado o argumento que pretende separar a fundamentação da moção da
conclusão da moção. Mas, então, ao PS são indiferentes as razões do PCP para propor o derrube do
Governo? Isso é presumir que as ideias não têm consequências ou que as definições de voto não têm causas.
Mas têm, num caso e noutro.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. José Junqueiro (PS): — Já explicámos por que foi!
O Sr. António Braga (PS): — Estava surdo?! Não estava cá? Não lhe contaram?
O Sr. Vice-Primeiro-Ministro: — O texto da moção não é caridoso com o Partido Socialista, mas da
hesitação da bancada socialista fica a ideia de que o Partido Socialista quis ser generoso com o PCP.
Ora, como dizia o Prof. Adriano Moreira, é por dentro das coisas que as coisas são. A recusa do PS em
clarificar águas com o PCP leva, evidentemente, a um conjunto de perplexidades.
O PCP propõe uma espécie de neo-PREC quando Portugal mais precisa do valor da confiança. Está o PS
de acordo?
O Sr. João Oliveira (PCP): — O senhor é um entertainer!
O Sr. Vice-Primeiro-Ministro: — Votando a favor, contribui para imunizar a consciência social sobre o que
representaria um novo surto de nacionalizações e de ocupações.
O PCP propõe, objetivamente, a saída do euro. Está o PS de acordo? Votando a favor, declina a
responsabilidade de explicar ao povo de esquerda a gravidade das consequências que isso teria, sobretudo
para os que são mais pobres ou que são apenas remediados.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.