12 DE JUNHO DE 2014
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O ataque que o Governo está fazer não tem só como plano principal a decisão recente do Tribunal
Constitucional, mas, sobretudo, a antecipação das medidas futuras. É a conclusão óbvia de que a escolha
pelo tratado orçamental não cabe nos limites da Constituição.
Passos Coelho disse-nos que Portugal não pode estar «num permanente sobressalto constitucional».
Basta ouvir a entrevista da Deputada Teresa Leal Coelho para perceber a dimensão das críticas ao Tribunal
Constitucional e o completo desrespeito existente — criticar agora para condicionar as decisões futuras.
Porque ainda faltam os próximos capítulos e o Governo já tem a consciência de ir novamente contra a
Constituição, medidas como o novo Regime de Contrato de Trabalho em Funções Públicas, as novas regras
de contratação coletiva ou a contribuição de sustentabilidade, todas se anunciam como um novo confronto
constitucional.
Não aceitamos que o Governo faça outra coisa que não seja o estrito cumprimento da Constituição.
A decisão do Tribunal Constitucional é uma vitória dos trabalhadores.
O Bloco de Esquerda está do lado da justiça e do cumprimento da decisão inequívoca do Tribunal
Constitucional: que se pague aquilo a que todos os trabalhadores têm direito, sem desculpas nem
encenações.
A Constituição é o garante do Estado de direito. Quem governa contra ela governa contra o nosso povo e
os seus direitos.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para pedidos de esclarecimento, estão inscritos os Srs. Deputados José Junqueiro,
do PS, e Jorge Machado, do PCP, a quem a Sr.ª Deputada Mariana Aiveca, segundo informou a mesa,
pretende responder individualmente.
Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado José Junqueiro.
O Sr. José Junqueiro (PS): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Mariana Aiveca, a sua
intervenção centra-se num objetivo que reputamos de essencial. A concertação social e a contratação coletiva
são dois elementos que promovem o equilíbrio na sociedade portuguesa e o equilíbrio no mundo do trabalho.
A verdade é que temos assistido sistematicamente a uma rutura do compromisso da contratação coletiva e
também da concertação social. Aliás, há pouco, o Sr. Deputado Jorge Machado falou exatamente desse
ponto.
A minha primeira questão é esta: a Sr.ª Deputada coloca o problema, mas pergunto-lhe se tem alguma
esperança de ser ouvida nesta Câmara em matéria de concertação social e de contratação coletiva por parte
da direita ou se tem alguma esperança de que as palavras do Sr. Presidente da República lançadas no sentido
do diálogo possam ter alguma materialização quando a atitude que vemos ser assumida pela bancada da
direita é a da rutura da concertação social, do não respeito pelo acordado na concertação social e o querer
violentar a contratação coletiva.
A segunda questão é a seguinte: neste clima, em que os órgãos de soberania e órgãos da República são
permanentemente postos em causa, a Sr.ª Deputada Mariana Aiveca acha bem que uma Deputada
mandatada pelo PSD tenha vindo à praça pública, por exemplo, dar a ideia que contratualizou com os juízes
do Tribunal Constitucional — aqueles que essa maioria indicou — um determinado comportamento, como se
tivesse havido um acerto. Isso, como sabe, não é verdade. Essa insinuação é um engano, porque os juízes do
Tribunal Constitucional decidiram muitas vezes por unanimidade.
Pergunto-lhe se acha que isso assim é possível.
A última questão que lhe coloco é no sentido de saber se a Sr.ª Deputada acha que estão reunidas
condições no Estado democrático quando alguém, mandatado pelo PSD, vem à praça pública dizer que vai
estudar sanções jurídicas contra o próprio Tribunal Constitucional «em caso de desobediência» (entre aspas)
para com esta maioria de direita.
Sr.ª Deputada, acha que é possível um clima de diálogo e de concertação social nestas condições na
sociedade portuguesa?
Aplausos do PS.