26 DE JUNHO DE 2014
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Depois de todas as golpadas que deu na escola pública, este Governo prepara-se agora para encerrar
mais de 300 escolas, por todo o País, e sobretudo no interior. O Governo fecha, assim, a porta às zonas rurais
e despovoadas e passa uma certidão de óbito a centenas de povoações do interior e ao mundo rural, uma
pretensão que deveria envergonhar não só o Governo mas também os partidos que lhe dão suporte.
Ao nível da saúde, o que se está a passar é revoltante. Para lá do encerramento de muitos serviços de
saúde por todo o País, há hoje unidades hospitalares que já nem dispõem de meios para procederem à
limpeza das suas instalações.
Foram necessárias as demissões no Hospital de S. João para o Ministro olhar para a situação deste
importante hospital no Porto. No Algarve, a situação é catastrófica, em termos de saúde, e por todo o País
faltam medicamentos, profissionais e meios para tratar os doentes.
Como se fosse pouco, o Governo pretende ainda encerrar 24 maternidades, eliminar várias especialidades
nos hospitais públicos e encerrar vários serviços de cirurgia. Uma vergonha que deveria fazer pensar o
Governo mas também os partidos que lhe dão suporte.
Mas não ficamos por aqui. O processo de privatização dos CTT começou pelo encerramento de postos de
atendimento. Até agora, as populações perderam já 411 estações de correio.
Ao nível dos transportes, o fim de muitas carreiras de transportes públicos veio remeter algumas regiões do
País para o mais completo isolamento, para além de se terem perdido importantes ligações, como as que
uniam, por via-férrea, Beja à Funcheira ou, no Algarve, com o fim de apeadeiros, como o de São Marcos da
Serra, que deixou 1500 pessoas verdadeiramente «penduradas».
Depois, temos ainda o encerramento dos tribunais, que vai deixar populações inteiras, sobretudo no
interior, «a ver a justiça por um canudo».
Por fim, temos o encerramento de repartições de finanças, que vem trazer dificuldades acrescidas aos
cidadãos no acesso a estes importantes serviços públicos.
Face a este quadro e a tudo o que este Governo tem vindo a fazer aos portugueses, não tarda para que as
pessoas comecem a questionar: afinal, pagamos impostos para quê?!
As pessoas fazem a sua parte, pagam os seus impostos, mais até do que era suposto, e o Governo tem de
assegurar os serviços públicos às populações e assumir as suas responsabilidades em termos de funções
sociais do Estado. Um Governo que não consegue assegurar as funções sociais do Estado nem garantir os
serviços públicos às populações é um Governo que não tem condições para gerir os nossos destinos.
É que não são os serviços públicos que estão a mais no nosso País. Se há alguma coisa a mais no nosso
País é este Governo, que já há muito deveria ter ido embora. Este Governo, em vez de encerrar serviços,
deveria, já há muito, ser um caso encerrado.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra, a Sr.ª Deputada Carla Cruz.
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: A consagração, há 35 anos, do Serviço
Nacional de Saúde (SNS) permitiu que todos os portugueses tivessem acesso a cuidados de saúde, acesso
que só foi possível com a criação de uma eficiente cobertura nos cuidados de saúde primários e hospitalares.
Essa cobertura, por ação de sucessivos Governos e do atual, tem sido fortemente reduzida, por via do
encerramento de postos, extensões e centros de saúde, de Serviços de Atendimento Permanente e de
maternidades, de fusões e concentrações de hospitais, que agora se tem de levar mais longe, com a aplicação
da Portaria n.º 82/2014, de 10 de abril. Com esta portaria, o Governo prossegue a política de desinvestimento
e no SNS.
Está previsto o encerramento de 24 maternidades; a eliminação das especialidades de endocrinologia e
estomatologia; o encerramento do Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto; o encerramento dos serviços de
cirurgia cardiotorácica, nos hospitais de Vila Nova de Gaia e de Santa Cruz, Lisboa; o encerramento de
serviços de cirurgia pediátrica, concentrando a valência em Lisboa, Porto e Coimbra.
A ofensiva contra o Serviço Nacional de Saúde abrange também a privatização dos serviços de saúde, o
avanço das parcerias público privadas na saúde; o alargamento aos profissionais de saúde da precarização
das relações laborais; a aplicação do regime jurídico do contrato individual de trabalho, de contratos emprego-