I SÉRIE — NÚMERO 101
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Sr.ª Ministra da Agricultura, sob o pretexto do saneamento financeiro da Casa do Douro, absolutamente
necessário, o que se está a fazer é uma outra coisa, que não tem a ver com o saneamento financeiro da Casa
do Douro, é extinguir a Casa do Douro! A Casa do Douro é extinta! Há uma privatização encapotada para uma
entidade terceira, uma entidade privada.
A questão não é a da inscrição obrigatória, nem a da inscrição livre, mas o facto de haver uma associação
pública com competências públicas, e é isso que está a ser extinto, dando a falsa imagem de que há uma
transmissão da Casa do Douro para outra entidade que também será Casa do Douro, mas não é verdade. Há
uma manipulação do logo da Casa do Douro, que será atribuído a uma entidade privada.
Portanto, temos aqui uma primeira questão, que é a mudança da natureza da Casa do Douro, e esta
extinção significa que ela é acompanhada do despedimento dos trabalhadores e significa também que perde
um conjunto de competências, desde logo, a capacidade (que estava realmente inibida, devido a outros
fatores, mas que tinha do ponto de vista geral) de intervir no mercado para ajustamento de preços, até aquilo
que se adivinha estar por detrás de todo este projeto, que é a incapacidade de uma associação com
competências públicas vir a determinar como funciona o benefício, como funciona a relação entre a produção
e o comércio. E isto é o que está já mais ou menos ínsito na proposta de lei do Governo.
Portanto, é uma perda absoluta para os produtores. Mais: a forma como é feita a avaliação dos stocks de
vinhos leva, fatalmente, a uma diminuição do rendimento dos produtores.
Opor-nos-emos a esta proposta de lei e verificamos, objetivamente, que o Governo não tem nenhum
acordo com a Direção da Casa do Douro para este tipo de dação em cumprimento, mas, no entanto, faz um
ultimato, dizendo que o fará, independentemente da vontade da Direção da Casa do Douro! É um ato
politicamente muito contestável, que nós, aqui, combatemos.
Entendemos que deve haver, de facto, um processo negocial, que devem ser mantidas competências
públicas à Casa do Douro. A questão da inscrição obrigatória não é importante, nem decisiva, neste processo,
o que é importante e decisivo neste processo é manter o Estatuto da Casa do Douro com capacidade
representativa dos produtores e com capacidade de negociar e discutir com o comércio exportador aquilo que
são os vinhos generosos da Região e a fonte de rendimento dos viticultores, que baixou a pique, como é
conhecido, nos últimos anos e que aumentará ainda mais esse fosso se estas medidas do Governo forem por
diante.
Portanto, Sr. Presidente, faço um apelo às bancadas da maioria para que não haja um rolo compressor
legislativo e para que possamos ter a oportunidade, em tempos próximos e em tempos úteis, de ouvir o Douro,
de dialogar com o Douro, dialogar com os produtores e com todos os interessados, e não tomar medidas de
privatização que, já se sabe, mais ou menos, irão recair numa entidade que se insinua que seja a própria CAP
(Confederação dos Agricultores Portugueses).
Ora, isto é um processo absolutamente inaceitável.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Abel Baptista.
O Sr. Abel Baptista (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra, Srs. Secretários de Estado, Sr.as
e Srs.
Deputados: A primeira palavra é para dizer que a Região Demarcada do Douro, uma das regiões mais antigas
ou a mais antiga região demarcada do mundo, merece ser reconhecida pelo esforço feito pelas gerações
anteriores, pelo trabalho que têm feito e pela valorização do produto que é hoje o vinho do Douro e o vinho do
Porto.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Por isso merece melhor!
O Sr. Abel Baptista (CDS-PP): — Mas também quero saudar o Governo pelo facto de encontrar,
finalmente, uma solução para uma instituição que surge do movimento corporativo — e não deixa de ser
sintomático que este movimento corporativo seja hoje defendido pelos partidos de esquerda — e que, pelo
menos durante 30 anos, acumulou formas muito difíceis de gestão, acumulou dívidas que atingiram o total de
160 milhões de euros e que, durante 30 anos, não foi capaz de se regenerar, de se refazer e de se tornar uma