I SÉRIE — NÚMERO 110
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a anos anteriores, e vem fazer também, a antecipação do debate do Orçamento, quando temos, pelo menos,
um mês de espera para o poder ler e mais um mês adicional para o debater.
Falou disso porque não quis falar de outras coisas — percebo, é a agenda política de cada um dos grupos
parlamentares. Não falou, por exemplo, dos quase 2000 professores que o Governo colocou, em vinculação
extraordinária, no início do verão e não falou no corte de mais de metade do número de horários zero, face ao
número do ano anterior.
Neste momento, existem 917 professores em horários zero, o que nos deixa com uma esperança, que diria
bastante fundada, de a 1 de fevereiro, uma data muito importante para estes professores, não se encontrar
nenhum professor nesta situação.
O Sr. Deputado também não falou no novo formato da reserva de recrutamento ou na bolsa de contratação
de escola, que permite que os professores possam estar na escola 48 horas ou 72 horas depois de aberta a
vaga, em detrimento de problemas para as turmas e para as famílias e também em detrimento de se terem de
deslocar à escola para fazer uma entrevista, voltarem para casa, esperarem o resultado dessa entrevista para
serem colocados nessa escola ou não.
Já agora, também não falou num tema que era, até hoje, muito caro ao partido que V. Ex.ª aqui representa,
que é o das praxes académicas. O ano letivo arrancou com o Governo a cumprir escrupulosamente uma
resolução da Assembleia da República, colocando uma campanha contra as praxes académicas abusivas em
todas instituições de ensino superior. Não quis falar disso, preferiu comparar o orçamento da educação em
Portugal com o do Bangladesh.
Sr. Deputado, devo dizer que não tenho nada contra o Bangladesh e sei que V. Ex.ª, naturalmente, também
não, não é isso que estou dizer, mas os dados do Education at a Glance, ao contrário do que V. Ex.ª pareceu
querer passar, já reportam a 2012, exatamente quando entram os primeiros cortes nos salários.
Ora, tal como se diz no próprio relatório — não sou eu que estou a interpretar, mas era uma interpretação
fácil de fazer —, de 2011 para 2012, os salários baixaram 16%, o que impacta absolutamente na despesa do
País com a educação. Mas a OCDE ainda diz mais. Refere que entre 2005 e 2011 tinham subido 11%, mais
de quatro vezes o que subiram na média da OCDE.
Por isso, digo ao Sr. Deputado — não falo em nome do Governo mas em nome da maioria, ou, pelo
menos, da minha bancada — que ninguém corta nos salários com alegria ou com vontade, mas estes
números deixam-nos relativizar, porventura, algures, essa questão.
Contando já com estes cortes e com o seu peso na despesa com a educação, Portugal fica bem acima, em
termos de percentagem do PIB, da Espanha, da Alemanha e da Itália, com uma pequena diferença: é que em
Portugal a esmagadora maioria (para não dizer a totalidade) da despesa com a educação é feita pelo setor
público. No resto dos países o setor privado também tem um papel significativo nesta matéria. Se fossemos só
contabilizar a despesa pública com a educação ficávamos à frente de países como o Chile, os Estados
Unidos, a Eslovénia, o México, de todos os países da OCDE tirando, porventura, a Noruega e a Suécia.
Sr. Deputado, isto para lhe dizer que teremos tempo para fazer o balanço do arranque do ano letivo quando
as escolas estiverem a funcionar e não no dia em que estamos a falar de apresentações de alunos, que, no
entanto, têm todos turma e professor colocado.
Faremos também o balanço do orçamento do Estado quando ele for apresentado e entregue.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Sem dúvida, Sr. Presidente.
Mas sabemos bem, e saberão todos — os de boa-fé, pelo menos —, que o ano letivo que hoje arranca se
inicia com normalidade, que o Governo colocou em marcha reformas, desde 2011, para colocar os professores
nas escolas a tempo e horas, tal como fez também com as bolsas de estudo do ensino superior. Faz isso com
a certeza de que a colocação de professores e a atribuição de turmas é algo que diz respeito…
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Sr. Deputado, faça favor de terminar.
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Estou mesmo a terminar, Sr. Presidente.