18 DE SETEMBRO DE 2014
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Tem a palavra a Sr.ª Deputada Odete João.
A Sr.ª Odete João (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, Srs. Secretários de Estado, Sr.
Ministro: No início de mais um ano letivo, começo por saudar, em nome do Partido Socialista, toda a
comunidade educativa.
O Sr. Amadeu Soares Albergaria (PSD): — Finalmente!
A Sr.ª Odete João (PS): — Este novo ano letivo começou de forma caótica com os problemas criados pelo
Ministério da Educação, mas, nas palavras do Sr. Ministro Nuno Crato, o ano letivo não só começou bem
como está dentro da normalidade. Isto quer dizer que o Ministério já não é capaz de distinguir a normalidade
do caos e que a maioria não reconhece os problemas existentes, como verificámos na intervenção que
ouvimos aqui.
Como já vai sendo hábito com este Governo, há milhares de professores sem colocação e há milhares de
alunos a quem faltam professores. E tudo isto acontece pela incompetência de quem dirige os destinos da
educação em Portugal — é esta a política de rigor e exigência do Sr. Ministro.
Que transcendência impede o Ministério da Educação de colocar os professores atempadamente e bem?
De começar o ano com regularidade? Não é esta a obrigação do Governo para com a comunidade educativa e
para com o País? Não é de elementar justiça tratar os professores com dignidade e colocá-los
atempadamente, em particular os que ficam longe de casa, de modo a poderem organizar a sua vida pessoal
e familiar?
A decisão tardia no que respeita às rescisões amigáveis e a recusa de muitos dos pedidos feitos frustraram
as expetativas de muitos professores que fizeram o pedido de rescisão e que, diria eu, acreditaram no
Ministério da Educação em vão.
Eivada de erros está, também, a renovação de contratos de professores, com prejuízos evidentes para
todos, mostrando-se a tutela incapaz de responder aos problemas que criou.
Todavia, é na bolsa de contratação de escola que a balbúrdia é total. A falta de transparência e de
tratamento com equidade neste concurso está a gerar total confusão, mas cumpre um dos objetivos traçados
por este Governo de direita, e cumpre-o bem: conduzir os professores a um futuro cada vez mais incerto.
Os candidatos não sabem que critérios correspondem a cada escola, não sabem quais os que estão
associados a cada disciplina, não sabem qual é a cotação item a item. Esta falta de rigor e transparência
instalou a confusão e a desconfiança na comunidade docente. Nesta matéria, Sr. Ministro, se tivéssemos de
lhe atribuir uma classificação, não teria nota para ir a exame.
É neste contexto de incerteza e instabilidade que os diretores de escola resistem às sucessivas e
inopinadas atoardas do Ministério da Educação e, diariamente, fazem o seu melhor para minimizar os estragos
que a tutela provoca no normal funcionamento das escolas. E o Ministério da Educação ainda se arroga o
direito de responsabilizar os diretores. É absolutamente inadmissível!
As famílias, que foram particularmente fustigadas por esta crise, têm ainda de fazer um esforço maior para
manterem os seus filhos na escola, enquanto o Estado se desresponsabiliza das suas obrigações
constitucionais.
Os alunos têm hoje uma escola mais pobre. A falta gritante de recursos para combater o abandono e
insucesso escolar faz o País recuar. A separação precoce dos alunos, nomeadamente através dos cursos
profissionais, faz-se pela mão deste Governo, em nome do valor utilitário que o mercado de trabalho impõe,
mas que coloca em causa direitos e liberdades fundamentais.
A falta de recursos humanos e materiais para os alunos com necessidades educativas repetem-se a cada
novo ano e o Ministério continua a olhar para estes alunos como se de questões administrativas se tratassem
e a construir uma escola cada vez mais segregadora e elitista.
Para o encerramento de escolas vimos a falta de respeito e a falta de diálogo para com as famílias e os
parceiros institucionais. A contestação alargou-se a vários pontos do País.
Para o Governo e para o Sr. Ministro o ano letivo abriu dentro da normalidade. Portanto, ou o Sr. Ministro
não tem noção do impacto das decisões que toma ao nível das escolas ou, então, estamos perante uma
política apenas orientada para a ruína da escola pública e da instabilidade social.