I SÉRIE — NÚMERO 13
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A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Agora, importa perceber quais são as consequências desse evento
que querem provocar. E não venham para aqui dizer: «Ah, é uma coisa que pode acontecer, não sabemos
bem como». É uma coisa que os senhores querem que aconteça e, assim, podemos, de facto, discutir, tendo
esses pontos na mesa.
O Sr. António Filipe (PCP): — Há quem queira austeridade!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — A primeira questão que seria importante colocar e à qual seria
importante que a bancada do PCP respondesse é o que esperam que seja a perda do poder de compra,
sobretudo, em salários e pensões.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Depende das medidas que forem tomadas!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — É porque a saída do euro e a renominação em escudo ou em outra
qualquer moeda nacional — e até para ter os efeitos de competitividade de que os senhores são os primeiros
a falar — significa que tem de haver, necessariamente, uma desvalorização monetária. Desvalorização
monetária quer dizer que as pessoas nominalmente, em números, ganham o mesmo, mas que o dinheiro vale
menos. Sobretudo em relação a bens importados, poderão comprar bastante menos coisas.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Não é verdade!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — O que pergunto é se os senhores têm uma estimativa de quanto se
perderá ou se, pelo contrário, vamos à aventura do «logo se vê como é que está para ver como é que fica»,
porque, diria eu, esta questão do «chega ao fim do mês e quanto menos coisas as pessoas vão poder
comprar?» é bastante importante. É o caso, por exemplo, dos medicamentos, muitos dos quais são
importados.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Hoje, passa-se o mesmo!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Importa perceber isso, porque, Srs. Deputados, por mais que vos
custe, é muito difícil dizerem que são contra cortes em salários e pensões e, depois, defenderem isso mesmo,
porque a saída do euro representa, necessariamente, cortes em salários e em pensões.
Protestos do PCP.
É também importante perceber — e o Sr. Deputado Paulo Sá foi o primeiro a falar, e bem, desse ponto de
vista — o perigo que há da fuga de capitais. É um perigo real, e o Sr. Deputado sabe-o bem.
Propõe-se, no projeto de resolução, recomendar ao Governo, e cito, porque não percebi, mas, de certeza
que foi por defeito meu, o seguinte: «A inserção dos atuais depósitos bancários, à ordem e a prazo, e outras
contas de particulares, empresas e instituições na nova realidade monetária, de modo a defender as
poupanças da população e combater a fuga de capitais».
Sr. Deputado, esta coisa de inserir atuais depósitos bancários— neste caso, não mundial, mas nacional —
na nova realidade monetária é um eufemismo para dizer que congela depósitos. É isso que está previsto fazer,
não é? Congelar depósitos!
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Exatamente!
Protestos do PCP.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Também não vejo outra maneira — e é preciso que as pessoas
percebam isso — de sairmos do euro sem congelamento de depósitos, sem, por exemplo, haver limites ao