I SÉRIE — NÚMERO 17
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A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Que vergonha!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Repito, 53 €, menos do que custa o jardim infantil mesmo para as famílias
que beneficiam do apoio máximo.
Sr.as
e Srs. Deputados, não vale a pena repetirem a lengalenga do costume de que há maior rigor e
fiscalização. O RSI, até pela despudorada demagogia que o CDS sempre lhe reservou, foi sempre o dinheiro
público mais fiscalizado e monitorizado. Reservasse a direita um terço do critério que dedica ao RSI na
concessão de perdões fiscais ou benefícios a grandes empresas e os cofres públicos estariam bem melhor.
Não. O que temos é uma política de perseguição social aos mais desfavorecidos, encarados como
madraços que não querem trabalhar à borla nos mirabolantes programas inventados por esta maioria, e uma
tentativa de fazer da pobreza um negócio. É uma visão assistencialista, que defende que os pobres não
devem ser apoiados monetariamente para viverem em autonomia, o que contrapõe com a humilhação do
pagamento em géneros.
Para esta direita, os pobres, já se sabe, não têm competências para decidir onde gastar o seu dinheiro. E,
à medida que o Governo vai desmontando as políticas públicas e transferências sociais que permitiram reduzir
o risco de pobreza para metade, vai crescendo um negócio de centenas de milhões — milhões que são mal
fiscalizados, dos quais não se conhecem os resultados e impactos reais.
Tostões para quem mais necessita, milhões para quem vive do zelo destruidor do Estado — eis a política
da direita em todo o seu esplendor.
Aplausos do BE.
Sr.as
e Srs. Deputados, mas eis que, quando todos os números e relatórios nos dizem que se assistiu ao
agravamento das condições de vida e a uma menor proteção das famílias e crianças, aparece o Governo a
acenar com uma fiscalidade amiga das famílias. Percebemos: a certidão de óbito, assinada e selada do
partido do contribuinte precisa de mentiras novas.
Vejamos. Diz o Governo que as novas alterações no IRS vão devolver 150 milhões de euros às famílias.
Reparem, são 150 milhões, ou menos de metade dos 330 milhões que tirou no abono de família. Com amigos
destes podem as famílias portuguesas estar descansadas!…
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Dúvidas existissem sobre o gigantesco número de propaganda que foi
esta reforma do IRS, a telenovela que se lhe seguiu foi esclarecedora.
O Governo apresentou uma proposta que, para dar um pouco às famílias com dois ou mais filhos, fazia os
outros 86% dos contribuintes pagarem mais. Não, dizia o Secretário de Estado, é tudo invenção dos jornais e
da oposição!… Sim, reconheceu o Primeiro-Ministro, mas vamos garantir uma solução informática que vai
fazer com que ninguém seja prejudicado!… Bom, estamos mais descansados!… O historial deste Governo
com computadores, da Justiça à colocação de professores, tem tudo para resultar em os cidadãos pagarem os
seus impostos 95 vezes ou mais.
Não contente com a propaganda da fiscalidade, o Governo quer ainda, neste Orçamento, cortar mais nas
prestações sociais, que já não se veem, e então inventou uma medida que não explicou até agora, a que
chamou tetos sociais. Mas aquilo que se sabe é que tetos sociais já as prestações sociais têm e, portanto, o
que o Governo quer é mais um expediente burocrático para cortar 100 milhões de euros a quem já vive na
pobreza.
Sr.as
e Srs. Deputados, dir-se-ia que tem de ser assim ou que não há alternativa. Sabemos que não é
verdade, que o País que produz multimilionários não tem de ser o País que condena as crianças à pobreza.
Aplausos do BE.