I SÉRIE — NÚMERO 18
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Espírito Santo, o que é uma coisa diferente. E eu gostaria que o Sr. Deputado contribuísse também para que,
aos olhos dos portugueses, se percebesse melhor essa diferença, embora, evidentemente, todos tivéssemos
preferido que, na cabeça dos gestores de um e de outro, essa clareza tivesse existido para que o Banco
Espírito Santo não tivesse chegado à situação em que chegou.
Na verdade, Sr. Deputado, qualquer que seja o impacto do lado do Grupo Espírito Santo na economia — e
será negativo, naturalmente —, ele não tem relevância macroeconómica que altere significativamente as
projeções de cenário macro que fazemos, tal como estão previstas no Orçamento do Estado. Portanto, não
prevemos que haja um impacto significativo que venha a afetar as variáveis macro que constam do nosso
cenário macroeconómico.
O Sr. João Galamba (PS): — Que grande confusão que vai aí nessa cabeça!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Pergunta o Sr. Deputado, insistindo numa matéria que já tem sido repetida por
outros Srs. Deputados, porque é que o Governo decide descer o IRC para as grandes empresas. Sr.
Deputado, a descida do IRC é para todas as empresas, não é para as grandes, é para todas. Porque é que o
Sr. Deputado insiste que é para as grandes empresas se é para todas?
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — É para as que têm lucros!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Mas como eu referi há bocadinho, no caso daquelas que têm lucros muito
elevados até há uma taxa de solidariedade, que vigorou no passado e se mantém para 2015. Portanto, é ao
contrário do que o Sr. Deputado diz!
Essa sobretaxa, que afeta as grandes empresas, assegura, justamente, que essas continuarão a pagar
mais do que as outras, a fazerem um esforço maior do que as outras. Portanto, Sr. Deputado, peço-lhe um
favor: não retorça a realidade das coisas apenas por que lhe parece mais fácil ou mais vantajoso dizer que as
grandes empresas vão pagar menos, simplesmente, e as pequenas empresas vão pagar mais. É ao contrário,
Sr. Deputado, é exatamente ao contrário.
Depois, o Sr. Deputado diz que se criou a expectativa que a saída da troica reverteria tudo. Não sei se o Sr.
Deputado teria essa convicção, mas eu não, nem nunca induzi ninguém a pensar tal coisa. O que eu disse foi
muito diferente e disse-o de muitas maneiras. Disse que é muito diferente viver sob resgate financeiro ou viver
com autonomia financeira. É muito diferente estar com 10% ou 11% de défice ou estar com 4%, como
estaremos este ano. É muito diferente não ter acesso aos mercados para financiar seja as empresas, seja o
Estado, ou ter acesso a mercado. Isso é muito diferente, Sr. Deputado.
Por isso, quando dizemos que o período de emergência financeira ficou concluído e que fechámos o
programa de assistência e, portanto, saímos da emergência financeira, isso é assim, Sr. Deputado, e deveria
ser um motivo de satisfação apesar de se estar na oposição.
Agora, Sr. Deputado, não é a saída da troica que resolve todos os problemas do País, nem eu nunca terei
feito tal afirmação.
Portanto, Sr. Deputado, julgo que há aí — e não leve a mal — um excesso de linguagem da sua parte, ao
atribuir-me aquilo que eu nunca disse.
Mas, agora, Sr. Deputado, permita-me que, a propósito das restrições na Administração Pública, diga o
seguinte: é sabido o que é que o Governo apresentou como solução para poupanças salariais e do lado das
pensões. Enfrentámos, como não podia deixar de ser, a impopularidade devida a apresentar com
transparência — e, deixe-me dizer, acho que com alguma coragem — níveis de redução desses rendimentos,
que nenhum governo gosta de fazer mas que nós fizemos, convictos de que era indispensável diminuir, e
rapidamente, a despesa pública para podermos reganhar confiança no financiamento.
E fizemo-lo ao longo de três anos, ao contrário do que aconteceu em países que passaram pelas nossas
circunstâncias, como a Irlanda ou a Grécia, de forma a que todos os anos fomos forçados a adotar soluções
diferentes — todos os anos, Sr. Deputado. Nenhum destes outros países que viveram sob resgate financeiro
precisaram de o fazer. Ainda no último Conselho Europeu, confirmei com o Primeiro-Ministro irlandês os cortes
salariais que foram adotados na Irlanda e que foram superiores aos nossos — eles roçam cerca de 20%, em
média, vigorarão até 2016 e só a partir de então começarão a reverter durante um período de três anos.