31 DE OUTUBRO DE 2014
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Inédito seria se o Governo devolvesse a totalidade do que retirou aos trabalhadores da Administração
Pública e não se ficasse apenas pelos 20% do total que retirou.
Inédito seria se o Governo não continuasse nesta onda de privatizações ou concessões de todas as
empresas públicas que interessam aos senhores do dinheiro, nomeadamente da TAP, da EGF, da STCP, da
Metro do Porto, da Carris, da Metro de Lisboa, dos CTT, da REN, da Caixa Seguros, da EMEF, da CP Carga,
e por aí fora.
Inédito seria se este Orçamento procurasse combater o desemprego.
Inédito seria se o Governo não pretendesse diminuir mais uns milhares de postos de trabalho, tanto da
administração central, como da administração local, como no setor empresarial do Estado.
Inédito seria se este Orçamento refletisse um esforço ao nível do investimento público, que, aliás, tem um
crescimento inferior ao da variação do PIB.
Inédito seria se o Governo investisse nos serviços públicos e melhorasse as condições de vida dos
cidadãos, que hoje se deparam com uma gritante injustiça. Aliás, à maior carga fiscal de que há memória,
corresponde menos investimento nos serviços públicos.
Inédito seria se este Orçamento não viesse aumentar as ingerências e agravar as restrições à autonomia e
à gestão do poder local.
Inédito seria se o Governo não tratasse as autarquias locais como órgãos desconcentrados do Governo.
E inédito seria se o Governo assumisse as funções sociais do Estado e procurasse com este Orçamento
promover a justiça social.
Mas, infelizmente, o único facto inédito deste Orçamento é que ele foi elaborado sem a sombra da troica e
as desculpas do Governo para justificar os sucessivos cortes nos salários, nas pensões e nos apoios sociais,
bem como as desculpas para o brutal aumento da carga fiscal sobre as famílias esfumaram-se da noite para o
dia com a saída da troica.
Termino, citando o Conselho Económico e Social quando voltou a insistir «na necessidade de reduzir a
carga fiscal sobre as famílias, tendo como objetivos a diminuição das grandes desigualdades fiscais e a
dinamização da procura interna e do mercado doméstico» — é o que diz o Conselho Económico e Social no
parecer sobre as Grandes Opções do Plano para 2015.
E, agora, dizemos nós: os portugueses exigem e têm direito a uma política alternativa que promova o
crescimento, melhore as condições de vida das famílias, combata o desemprego, dinamize o investimento
público e a procura interna e, sobretudo, que promova a justiça social.
Não é nada disso que acontece com este orçamento do Estado para 2015.
Aplausos de Os Verdes e do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Está agora inscrito o Governo.
Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Ministra de Estado e das Finanças.
A Sr.ª Ministra de Estado e das Finanças (Maria Luís Albuquerque): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados:
A apresentação de uma proposta de Orçamento do Estado no Plenário da Assembleia da República é um dos
momentos mais marcantes do exercício da governação e do escrutínio democrático por parte dos
representantes eleitos dos cidadãos. É um tempo de balanço sobre o que já foi executado pelo governo em
funções e de perspetivar um novo ano e a continuidade ou mudança das políticas propostas.
É, assim, o momento ideal para um debate aberto e construtivo sobre o que nos une e o que nos separa na
visão do País, legitimados que todos estamos para o papel que nos cabe desempenhar. É o momento para
esclarecer dúvidas e debater propostas, revelando com clareza aos portugueses o que o Governo e cada um
dos partidos com assento parlamentar defende e propõe. É o momento para estabelecer consensos e marcar
diferenças, com seriedade e convicção.
A proposta de Orçamento do Estado para 2015 é a primeira que apresentamos no pós-programa. É um
Orçamento de responsabilidade e de rigor que assegura um défice abaixo de 3% do PIB pela primeira vez
desde a adesão ao euro. Reconhece e consolida as conquistas dos portugueses nos últimos três anos, em
que o esforço de ajustamento foi intenso, mas será executado com aceleração do crescimento económico,