I SÉRIE — NÚMERO 37
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Em segundo lugar, quero perguntar-lhe se não considera que aquilo que é realmente importante, e que me
impressionou, foi a evolução de «Je suis Charlie» para «Je suis policier» e «Je suis juif». Ou seja, a grande
unidade de todos aqueles que acreditam na democracia e na liberdade de expressão é a grande forma de
responder a esse desafio e a esse problema.
Até aqui tudo bem, não há problema nenhum, o Sr. Deputado até estava a ir bastante bem. Contudo, o Sr.
Deputado João Soares resolveu, passe a expressão, «borrar a pintura». E «borrou a pintura» quando se virou
para a situação interna, para a situação nacional.
O Sr. Deputado usou um argumento que já tínhamos ouvido da parte da bancada do Partido Socialista, que
foi o de dizer «bom, nós já fomos julgados, já houve eleições e, portanto, a partir daí não temos nada a ver
com nada, o assunto não é nosso, nem nos falem mais nisso.»
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Exatamente!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Não é assim, Sr. Deputado. É verdade que o Partido Socialista foi
eleitoralmente julgado nas eleições, mas também é verdade que, nessas eleições, foi julgado tanto pelos seus
erros como — passe a expressão — pelos seus pecados. E também é verdade que quem ficou até hoje a
espiar e a pagar os pecados do Partido Socialista foram os portugueses, que sofreram as consequências
desses mesmos erros e desses mesmos pecados.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
Até hoje, Sr. Deputado! Porque tudo o que passámos, do ponto de vista social, com todos os sacrifícios
que o Governo foi obrigado a pedir, é indissociável da governação do Partido Socialista.
Quando o Sr. Deputado diz que o Governo não tem nisto nenhum mérito, chamo a sua atenção para o
seguinte: quando o Partido Socialista saiu do poder, estávamos a discutir — o que para si pode ser um detalhe
ou uma coisa de somenos importância — se era possível Portugal ter um empréstimo a três meses. Ora, neste
momento, estamos a discutir empréstimos a 30 anos!
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Bem lembrado!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — A diferença é de zeros, é vezes 10, Sr. Deputado! E é de zeros à
direita, porque os zeros à esquerda não contam nada.
Risos do CDS-PP.
Zeros à esquerda conhecemos muitos, mas não contam para nada. É, pois, uma diferença de zeros, e de
zeros do lado direito.
Por isso, Sr. Deputado, dir-lhe-ia, tranquila e serenamente, que, evitando lugares comuns, a ideia é esta: o
Partido Socialista está muito otimista e muito confiante, mas talvez ainda lhe falte passar em alguns testes,
apresentar as tais propostas que não vimos até agora. Nós, no CDS e na maioria, estamos também muito
tranquilos, estamos de consciência tranquila com o que fizemos, estamos de cabeça erguida e não temos
nenhum problema em discutir, hoje ou amanhã, com o Partido Socialista seja o que for.
A Sr.ª Presidente: — Sr. Deputado Telmo Correia, peço-lhe que conclua.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Concluo, Sr.ª Presidente, dizendo só o seguinte: que estranho é
ouvirmos aqui sempre o Partido Socialista acusar o Governo e a maioria de eleitoralismo ao mesmo tempo
que faz discursos eleitorais.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Exatamente!