I SÉRIE — NÚMERO 37
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O Sr. Mota Andrade (PS): — É verdade!
O Sr. João Soares (PS): — Os senhores fazem um sorriso muito amarelo, mas têm de reconhecer que o
que estou a dizer é verdade.
Quanto às questões relativas a heranças históricas, Sr. Deputado Telmo Correia, nós assumimos a nossa
História na sua integralidade. Já por várias vezes, quer o nosso líder António Costa, quer o meu líder
parlamentar e meu camarada e amigo Ferro Rodrigues, como o seu antecessor, o meu querido amigo Alberto
Martins, têm sublinhado que não usamos a prática de esconder as nossas lideranças anteriores, naquela velha
lógica estalinista e maoísta em que se tiravam os retratos da parede. E já houve, em Portugal, partidos que
retiraram retratos da parede, mas há que reconhecer que, depois, foram colocados novamente.
E não tenho a menor dúvida de que o Sr. Deputado Telmo Correia, que é um ilustríssimo dirigente do CDS
com quem já tive um percurso em comum muito vasto, assume com galhardia o que foi a liderança do Prof.
Freitas do Amaral à frente do CDS. Portanto, não há que ter, nessa matéria, nenhuma espécie de complexos.
Passo à questão sobre François Hollande e a liderança do PS francês e do Governo francês, respondendo
à Sr.ª Deputada Cecília Honório.
Devo dizer-lhe que não sei se a minha posição é ou não maioritária, provavelmente até será minoritária.
A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado João Soares.
O Sr. João Soares (PS): — Concluirei, Sr.ª Presidente.
Como não fui tocado pela fé, nunca olhei para François Hollande como um enviado dos deuses.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Mas muitos acreditam nisso!
O Sr. João Soares (PS): — Olho para ele como um socialista que está empenhado em construir, que tem
tido insucessos, mas que também tem tido alguns bons resultados. E acho profundamente injusto, neste
contexto, invocar o exemplo abstruso e horrendo do anterior Presidente dos Estados Unidos, Bush, no que diz
respeito à forma como François Hollande reagiu a este atentado terrorista.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. João Soares (PS): — Foi absolutamente admirável. Acho que, de uma forma geral, a Europa, da
direita à esquerda, se reviu no que foi o comportamento de François Hollande. Tivesse ele mostrado a mesma
firmeza para fazer frente aos diktats do diretório da Sr.ª Merkel à frente da União Europeia!
Nessa matéria, também é preciso sublinhar aquilo que tem a ver com o tratado orçamental, que, como tem
sido dito tantas vezes pela minha bancada, tanto pelo seu atual líder como pelo anterior, está a ser subvertido
todos os dias pela Comissão Europeia e pelas várias instâncias da eurocracia com sede em Bruxelas.
Sempre que tenho de dialogar com a bancada do PCP, sou obrigado a citar os grandes autores que
marcaram a minha juventude. Nunca fui comunista, mas cito, mais uma vez, o Rumo à Vitória, do Dr. Álvaro
Cunhal e O Radicalismo Pequeno-Burguês de Fachada Socialista, que são dois textos fundadores da
intervenção estratégica do PCP, pela qual tenho um respeito histórico que — têm de reconhecer — tenho
afirmado sempre aqui. Mas é preciso ter prudência, porque quando se quer travar uma grande batalha ou
quando se quer fazer uma revolução, é preciso prepará-la bem e não avançar numa lógica de radicalismo
pequeno-burguês.
Aplausos do PS.
Protestos do PCP.
Trata-se de algo que tem de nos imbuir a todos, numa lógica que não é de exclusão.
Dizemos, mais uma vez, como António Costa disse várias vezes e como outros já tinham dito antes dele —
e eu, modestamente, também disse sempre ao longo da minha vida —, que rejeitamos o processo