15 DE JANEIRO DE 2015
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O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Fazem campanha aberta aqui e em todo o lado, mas dizem que
eleitoralistas são os outros.
Sr. Deputado, nessa matéria, a única novidade da sua parte foi esse seu entusiasmo, esse seu apoio
entusiástico a António Costa que até agora não tínhamos ouvido. Foi, de facto, a única novidade.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente: — Peço aos Srs. Deputados o favor de respeitarem os tempos regimentais.
Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado João Soares.
O Sr. João Soares (PS): — Sr.ª Presidente, responderia pela ordem inversa das questões que me foram
colocadas e espero ter a mesma tolerância em termos de tempo que a Sr.ª Presidente teve para com os que
me colocaram questões.
Começando por responder ao meu amigo pessoal e adversário político Telmo Correia, direi que acho
curioso que quer o Sr. Deputado Telmo Correia, quer o Sr. Deputado Carlos Gonçalves me tenham atribuído
referências que não fiz. Podia ter feito — se calhar, isso quer dizer que deveria ter feito —, mas não fiz
nenhuma ligação entre os atentados terroristas bárbaros que ocorreram em Paris e a situação social. No
entanto, quer o Sr. Deputado Telmo Correia, quer, sobretudo, de uma forma muito enfática, embora também
simpática, o Sr. Deputado Carlos Gonçalves o referiram. Ora, isso é uma redonda mentira, não tem nenhuma
relação com o texto que aqui li e que vos posso distribuir.
Quanto ao resto, há muitos pontos em que nos podemos entender ao nível de todas as bancadas e que
importa sublinhar, como foi o caso, nomeadamente, da delegação parlamentar que acompanhou a Sr.ª
Presidente, que se deslocou a Paris, e muito bem, para participar na manifestação de protesto contra o
bárbaro atentado ao Charlie Hebdo e ao supermercado de produtos kosher. Tal não significa que esse
entendimento não permita que salientemos também, no que diz respeito às questões internas, as profundas
divergências que temos uns com os outros.
Existe uma cultura de há muito tempo na nossa terra, que tem tradições históricas que são compreensíveis
— em que às vezes alguns extremos se tocam e de que nós, socialistas, somos sempre, de alguma forma,
vítimas —, que é a cultura daqueles que acham que têm uma superioridade moral em relação aos outros ou
que têm uma visão que é inevitavelmente melhor do que a dos outros.
O Sr. Mota Andrade (PS): — Muito bem!
O Sr. João Soares (PS): — Ora, nós nunca nos pusemos nessa posição e sempre recusámos o
maniqueísmo como análise política. Faço questão de o dizer aqui mais uma vez.
Nós consideramos que a emigração portuguesa — tenho algum conhecimento da emigração portuguesa,
nomeadamente na França — deu e continua a dar um contributo muito importante para a França que
conhecemos, para a terra de liberdade que a França, felizmente, continua a ser e onde a emigração
portuguesa, é bom sublinhá-lo, é um fator de estabilidade. Por isso é que também o nosso responsável pelo
trabalho junto da emigração, o meu camarada e nosso colega Deputado Paulo Pisco, em representação do
Grupo Parlamentar do Partido Socialista, lá esteve na manifestação de protesto contra a barbárie daquele
atentado.
Quanto às questões de política externa, Sr. Deputado Carlos Gonçalves e também Sr. Deputado Telmo
Correia, se olharmos para a realidade numa lógica que não se quer maniqueísta e que recusa o maniqueísmo,
se olharmos para o que é a nossa política externa, para o que é nosso atual Ministério dos Negócios
Estrangeiros e para o que tem sido o papel do nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros — e quero ser
moderado, até na lógica da defesa do interesse nacional —, há que reconhecer que nós, já com este Governo,
noutro modelo, tendo tido política externa, embora muito coartada, como sabemos — e talvez o Sr. Deputado
Telmo Correia saiba ainda mais do que eu… Mas nós, neste momento, não temos Ministério dos Negócios
Estrangeiros de que nos possamos orgulhar. E bem precisávamos de o ter, neste contexto internacional e
nomeadamente neste contexto europeu.