I SÉRIE — NÚMERO 39
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Sr.ª Deputada, é esta a nossa maneira de estar.
A Sr.ª Deputada pode discordar e pode dizer: «Que pena, porque eu gostaria muito, tendo bancos públicos,
de chamar lá os administradores e dizer-lhes que em relação a um negócio os senhores devem fazer de uma
maneira, relativamente a outra operação devem fazer de outra maneira…». É a posição do Bloco de Esquerda
e é a posição, também, de outros partidos.
Acho que foi justamente essa posição, essa maneira de estar, essa atitude, essa filosofia que deu no que
deu no caso da Portugal Telecom.
Aplausos do PSD.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — O senhor deve estar a brincar!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Ao contrário daquilo que a Sr.ª Deputada pensa, foi justamente essa filosofia
que conduziu ao atual estado da Portugal Telecom.
Sr.ª Deputada, por muito que isso lhe custe, o Governo não irá interferir no âmbito de um negócio privado.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Tem de novo a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, a administração do Novo Banco,
como a administração da Caixa Geral de Depósitos, tem de obedecer ao acionista, que é quem coloca
dinheiro. Quem colocou dinheiro foi o Estado e, portanto, a administração tem de obedecer ao Estado, ao
interesse público.
É verdade, temos uma maneira de estar diferente. Sabe qual é a diferença, Sr. Primeiro-Ministro? A
diferença é que nós, no Bloco de Esquerda, acreditamos que o Estado tem obrigação de defender o País e o
Sr. Primeiro-Ministro, quando tem de escolher entre o interesse estratégico do País ou o interesse dos grandes
acionistas de capital estrangeiro, escolhe sempre os grandes acionistas.
Aplausos do BE.
Sr. Primeiro-Ministro, queria falar-lhe de uma outra grande empresa portuguesa, a TAP. Já sabemos como
é que as privatizações começam e começamos também a perceber como é que elas acabam — veja-se o
caso da PT.
Esta privatização da TAP é feita com base numa má desculpa.
O Sr. Primeiro-Ministro vem dizer aqui que se não privatizar a TAP, a TAP acaba e que se perdem todos os
postos de trabalho, porque a União Europeia não nos permite uma capitalização pública, um aumento de
capital público.
Ora, isso não é verdade. Não é verdade, porque a última vez que isso foi feito na TAP foi há 20 anos e,
como já passaram os 10 anos de prazo, o Estado pode pôr dinheiro na TAP, sim, se for preciso. E não é
verdade, porque há outros países europeus que estão a capitalizar as suas empresas públicas, porque
precisam de o fazer. Portanto, é caso para vos dizer: «Inventem mentiras novas». Esta não cola, Sr. Primeiro-
Ministro.
Além disso, é preciso lembrar que no Governo de António Guterres se quis vender a TAP à Swissair que,
depois, foi à falência. Se há coisa que nós sabemos disso é que se a TAP tivesse sido privatizada nessa altura
hoje já não existia e não garantia nenhum posto de trabalho.
Sr. Primeiro-Ministro, diz-nos a história, da PT à Swissair, do BES a tudo o que tem acontecido, que a
privatização, sim, é a melhor forma de mandar abaixo uma empresa pública e uma empresa estratégica.
Mas, Sr. Primeiro-Ministro, a pergunta que lhe quero fazer é: então, há uns trabalhadores que têm o posto
de trabalho assegurado durante alguns anos e outros não têm, conforme concordam, ou não, consigo? Não
está no caderno de encargos, mas estará no acordo de empresa?