I SÉRIE — NÚMERO 41
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porque temos memória que nunca pensámos que, quatro décadas depois do 25 de abril e da construção do
Serviço Nacional de Saúde, se assistisse à triste situação dos hospitais portugueses e, nomeadamente, das
urgências. Temos memória, Sr. Deputado! Temos memória e não queremos voltar atrás! Por isso mesmo,
temo-nos batido pela defesa do Serviço Nacional de Saúde.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Mas também está em causa uma outra coisa muito importante: os ganhos em
saúde, para os portugueses e para as portuguesas, construídos ao longo de décadas por profissionais
dedicados. Esses ganhos também estão a ser postos em causa. Não se trata só de ser atendido ou de não ser
atendido nas urgências, com a importância que isso tem; trata-se de algo que foi construído, que se chama
Serviço Nacional de Saúde e que está em causa devido às políticas que têm sido aplicadas pelo Governo do
PSD e do CDS e das quais o Sr. Deputado veio aqui fazer eco.
O Sr. Cristóvão Simão Ribeiro (PSD): — Com muito orgulho!
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Os constantes cortes no financiamento, os constantes cortes na contratação
dos profissionais, a obsessão do Ministro Paulo Macedo pelas contas e por essa dívida que, afinal de contas,
nem sequer conseguem pagar, fez com que os hospitais fossem definhando e, hoje, hospitais e centros de
saúde estão estrangulados.
A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Concluirei, Sr.ª Presidente.
Quem pensava que as políticas seguidas pelo Governo eram neutras para o funcionamento do SNS,
enganou-se redondamente. Hoje, estamos a viver com o caos que se faz sentir nas urgências e só os
senhores é que não veem isso. Só os senhores! São os únicos! O PSD e o CDS têm uma venda nos olhos no
que diz respeito às urgências hospitalares, e isso é uma vergonha.
Sr.ª Deputada Carla Cruz, acompanhando-a no essencial da sua intervenção, deixo-lhe a seguinte questão:
só com o fim desta política, só cortando com esta falta de financiamento e apostando na contratação de
médicos, enfermeiros e auxiliares é que se poderá começar a inverter a lógica da destruição do Serviço
Nacional de Saúde?
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Carla Cruz.
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Helena Pinto, agradeço a questão que nos
colocou.
De facto, só uma política de financiamento, tal como disse na declaração política, e uma política que
permita a contratação dos profissionais, a valorização social e profissional dos trabalhadores da área da saúde
é que poderão levar a uma rutura e a uma melhoria na situação do Serviço Nacional de Saúde e das
urgências.
Sr.ª Deputada, também gostaria de dizer que a rutura a que os serviços de urgência chegaram não é de
hoje, não é de agora, resulta das opções políticas que este Governo e os anteriores têm tomado.
A redução do número de camas dos hospitais foi uma medida extremamente gravosa para o Serviço
Nacional de Saúde e hoje percebe-se como essa medida foi tão mal feita. Mas a intenção era clara: à medida
que se reduzia o número de camas no serviço público — foram mais de 900 —, surgiam muitas mais camas
nos privados. E este aparecimento de camas nos privados decorre, claramente, do que tem sido a opção
política do atual Governo: cortar no público para entregar ao privado.