I SÉRIE — NÚMERO 43
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O que de pior se aponta é que os termos em que a dita prova tem sido aplicada, em absoluta deriva,
desintegra-a de um projeto global e estratégico de formação e de qualificação de docentes, instituindo-a como
mecanismo isolado com carácter, por si só e sem mais, decisivo no impedimento de acesso à profissão e ao
emprego. Tudo independentemente do percurso que o professor fez. E, se esse percurso tivesse sido de
excelência, teria sido atestado numa avaliação irrepreensível em meio académico e em contexto de trabalho
na escola.
A prova, com uma aplicação forçada, traduz-se na forma mais fácil — mas, de todo, inoperante — de tentar
resolver problemas identificados no sistema, como a inexistência ou a ineficácia de regulação da formação
ministrada pelas instituições de ensino superior e como o processo de recrutamento de professores, enleado
em burocracias e inadequações.
Em contraponto, o Partido Socialista não embarca em soluções simplistas de ignorar os problemas e de os
resolver varrendo-os e esquecendo-os.
Porque assim é e porque estamos de acordo que tudo tem de se fazer para garantir a qualidade do corpo
de docentes, é preciso ter o discernimento de acabar — porque, substancialmente, já foi arrasada — com esta
prova que, tal como está e com as trapalhadas em que medrou, não serve o sistema e é iníqua. Até porque a
aplicação de uma prova desta natureza e com as implicações que tem nunca poderá ter futuro sem
legitimação.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Agostinho Santa (PS): — É preciso regressarmos a um debate sério e aprofundado que, desde o
início, em 2007, se impunha e nunca foi verdadeiramente feito. Mas, para isso, é forçoso que se termine com o
ruído que as soluções operativas deste Governo trouxeram e que é impeditivo de serenidade no debate e que
o capricho, a teimosia e a obsessão não deixam acontecer.
Termino, Sr. Presidente, dizendo o seguinte: imponha-se silêncio e deixe-se esta prova na gaveta, pelo
menos enquanto se pensa e se situa na sua estratégia e globalidade, envolvendo, nesse ato de pensar, a
participação dos protagonistas essenciais.
Se esta prova, tal como está, nada prova, reprove-se a prova.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Michael
Seufert.
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: A questão da prova de avaliação já foi
debatida várias vezes no Plenário. Como tal, aproveitei e fui à procura da ata do primeiro debate que fizemos
nesta Câmara sobre tal questão. Salvo algum engano da minha parte, foi em 2008, por ocasião de uma
petição à qual se juntou, depois, uma iniciativa do PCP no sentido de revogar do normativo jurídico a
existência dessa prova.
Na altura, o Sr. Deputado João Bernardo, do Partido Socialista, disse o seguinte: «A prova de avaliação de
conhecimentos e competências (…) é uma peça essencial na concretização daquela orientação política» —
era Governo o Partido Socialista.
Também disse que «a prova de avaliação constitui-se como um importante instrumento que pretende
assegurar, de modo equitativo, o exercício efectivo de docência apenas a quem garante o respeito por
requisitos imprescindíveis de exigência e qualidade».
Sr. Deputado Agostinho Santa, estas são palavras bem mais claras do que aquelas com que hoje tentou
fugir à questão. Ouvimo-lo durante três minutos e meio mas não percebemos o que quis dizer.
Vou ler, também, a resposta da ex-Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, enviada ao
Parlamento, em relação à petição que estava a ser discutida na altura. Escreveu: «A prova constitui uma forma
de garantia de equidade para todos aqueles que ingressam na carreira docente, uma forma de garantia da
qualidade do sistema de ensino, uma forma de garantia da transparência e da adequação às características do
mercado de trabalho e uma forma de garantia de uma melhor preparação do corpo docente face às novas