6 DE FEVEREIRO DE 2015
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Estas estruturas — algumas das quais remontam ao século XV — foram erigidas para corrigir as
necessidades de água da ilha, transportando a água de onde existia em abundância, nas encostas voltadas a
norte, para onde era deficitária, nas encostas voltadas a sul.
Hoje, estas levadas são visitadas por milhares de turistas, locais e estrangeiros, que encontram nelas uma
simbiose quase perfeita entre uma natureza prístina e a ação humana no que é um verdadeiro hino ao génio
criador humano, incomparável em todo o mundo.
Sr.as
e Srs. Deputados, não posso deixar de dar uma nota pessoal. Eu, como qualquer madeirense, tenho
muito orgulho nas levadas e vejo nelas um património único que nos foi deixado pelos meus antepassados,
por um povo que se recusou render à orografia dificílima de uma ilha, que deitou mãos à obra e que construiu
para si e para as gerações futuras um património único que nos deixou, um exemplo.
Recordo também os homens e as mulheres que morreram — e foram muitos! — na construção dessas
levadas, mas que ainda hoje, através da sua memória e do seu exemplo, falam para nós e ecoam na história.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Muito bem!
O Sr. Francisco Gomes (PSD): — Mas as levadas não são da Madeira e este diploma não tem só a ver
com a Madeira. A proposta que está subjacente a este diploma é, acima de tudo, uma celebração de Portugal
na sua diversidade. Onde muitos veem barreiras e divisões, nós vemos força, união, riqueza, pelos nossos
cantares, pelos nossos saberes, pelas nossas bandeiras, pelos nossos sotaques.
Nós somos Portugal, um País diverso mas unido, e é isso que reflete este diploma. Um Portugal na sua
extensão, na sua dimensão, que é das montanhas do Minho, que é das furnas açorianas, que é das planícies
alentejanas, que é das colinas lisboetas, que é das levadas da Madeira. É esse Portugal, diverso mas unido,
que apresenta esta candidatura. É esse Portugal, diverso mas unido, que apoia esta candidatura.
Se me permitem, Sr.as
e Srs. Deputados, será esse Portugal, diverso, unido e com o voto unânime desta
Casa, que aqui estará para receber o galardão da UNESCO.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Rui Barreto.
O Sr. Rui Barreto (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Em primeiro lugar, cumprimento e felicito
Os Verdes por terem trazido a esta Assembleia um projeto de resolução que recomenda ao Governo da
República que apoie e incentive a candidatura das levadas da Região Autónoma da Madeira a património
mundial da humanidade, galardão esse que é atribuído pela UNESCO.
Sem dúvida que as levadas da Madeira são uma grande obra-prima do homem e a história delas confunde-
se até com a história do homem, porque o aparecimento das levadas reside no início da povoação, no início
da colonização, no século XV.
Para os que não conhecem a orografia acentuada da ilha da Madeira, seria muito importante perceber as
suas dificuldades e o seu relevo montanhoso. O sul, onde predominantemente se começou a povoar e onde
tinha melhores condições para a agricultura e para a fixação das pessoas, tinha uma carência, a água, que,
por sua vez, era mais abundante no norte.
É a partir daqui que o homem, no seu superior trabalho, muito difícil, porque teve de o fazer, muitas vezes,
apoiado em rochas e em troncos, transportou a água do norte, fazendo tabulações em madeiras como o til e o
barbusano — são plantas endémicas e que fazem parte da floresta tropical, inclusive da Laurissilva, que é
património da humanidade —, para o Sul de modo a irrigar as plantações e, principalmente, nessa época, os
canaviais, a cana-de-açúcar, ajudando nas suas prensas e nos seus engenhos. Diria que sem a água das
levadas da Madeira não seria possível cumprir uma etapa madeirense, como foi a rota do açúcar.
Para além disso, as levadas são um património enorme e têm uma importância vital para a primeira região
de turismo de Portugal, a Região Autónoma da Madeira. É através das levadas que vamos pelo interior da ilha
e verificamos a Madeira majestosa, as suas paisagens luxuriantes, os seus miradouros, o contacto com uma
flora absolutamente única no mundo e que também faz parte da Laurissilva.