4 DE ABRIL DE 2015
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A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.a Deputada Cecília
Honório.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Relativamente ao projeto de lei que o Sr.
Deputado José Magalhães aqui traz, sobre a transparência ativa em toda a Administração Pública, utilizou um
termo inexistente fazendo um apelo a que esta discussão seja «descrispada» em sede de comissão, mas
penso que nem a sua intervenção inicial, ao estabelecer um confronto entre Comissão Nacional de Proteção
de Dados e Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos, teve assim tão pouca crispação, nem tão-
pouco o próprio conteúdo da iniciativa, que gostaria de discutir consigo.
Na verdade, o princípio é razoável e é evidente que faremos todo o debate necessário, mas gostaria de lhe
deixar três ordens de dúvidas sobre a iniciativa legislativa que, hoje, discutimos.
A primeira diz respeito à própria necessidade. Esta iniciativa responde exatamente a que necessidade,
quando são ultrapassadas algumas margens relativamente a dados sensíveis dos cidadãos?
A segunda questão diz respeito à total ignorância da Lei da Proteção de Dados Pessoais. Como é que uma
iniciativa desta natureza ignora uma lei desta natureza?! É que pode gostar-se mais ou menos, mas ela existe.
A terceira ordem de dúvidas, se me permite, diz respeito à própria intenção do PS. Se este projeto não tiver
todas as condições para ir até ao fim, gostaria de lhe perguntar o seguinte: se — se, se, se… — o Governo do
PS vier a existir, isto é mesmo para levar avante?
Preocupações: o artigo 3.º do projeto de lei prevê a obrigação de publicação de quase toda a
documentação da Administração Pública. Não falta nada! Enfim, quase poderíamos falar de tentações
voyeuristas, das quais dou dois exemplos.
Primeiro, alínea e) Atos e decisões com eficácia perante terceiros. Não se ressalvam informações sujeitas
a dever de sigilo, a segredo comercial ou industrial ou, mesmo, informações classificadas. Acompanho o
parecer da Comissão Nacional de Proteção de Dados? Sim, Sr. Deputado! É isso mesmo que estou a fazer,
porque esta matéria se reporta a direitos fundamentais.
Que possa ficar na net o ato administrativo que, e continuo a acompanhar exemplos do mesmo parecer, dá
alta a um paciente de um hospital, ou que dá ordem de internamento num hospital, para além da lista dos
funcionários públicos e de todos os seus vencimentos, por exemplo, parece-me que tudo isto é matéria de
uma enorme sensibilidade que não pode ser entendida com leviandade, quando se pede para baixar a
crispação nesta discussão.
Sr. Deputado José Magalhães, quando se faz a advertência de que se corre aqui o risco de criação de
listas com informação pessoal sensível dos cidadãos, isto é para levar a sério. E, no nosso entendimento,
chega de listas. Já estamos fartos e fartas de listas!
A terceira dúvida, e para concluir, é a seguinte: os senhores atribuem à CADA a fiscalização, a
monitorização, a avaliação de toda esta complexidade que aqui montam no projeto de lei. Gostaria de
perguntar com que meios é que a CADA iria fazer tudo isto? Com que condições?
Mas deixo-lhe também outras dúvidas que bem conhece. Não se trata aqui de estabelecer nenhuma
dicotomia — sabe bem que até entendemos que CADA e Comissão Nacional de Proteção de Dados deveriam
caminhar no sentido de uma comissão única —, mas deixo-lhe a questão: 7 dos 11 elementos da CADA têm
extração política, dois deles são, aliás, Deputados nesta Assembleia. Penso que esta matéria, com toda a
exigência que suporta, mereceria uma entidade bastante diferente daquela que é a CADA, pela sua própria
composição.
Por isso, Sr. Deputado, com certeza que, sem crispação, faremos as discussões todas. Não podemos é
ignorar de forma alguma os riscos desta iniciativa, quer no que diz respeito ao acesso a dados sensíveis de
cidadãos e cidadãs, quer no que diz respeito ao reforço de competências da Comissão de Acesso aos
Documentos Administrativos, com as reservas que bem sabemos e que, pelo menos da nossa parte, não
queremos deixar de colocar.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem agora a palavra a Sr.ª Deputada Teresa Anjinho para uma
intervenção.