9 DE ABRIL DE 2015
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O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O Bloco de Esquerda também
se associa à expectativa de que o prazo que decorre entre o momento a que diz respeito o relatório e o
momento em que este Plenário o discute possa ser substancialmente encurtado no futuro.
Queria deixar apenas quatro notas sobre o relatório que hoje apreciamos. A primeira nota diz respeito ao
serviço público. O relatório mostra bem que é o serviço público que continua a garantir maior diversidade de
programação, tanto na rádio como na televisão.
Sem o serviço público, como mostra o relatório, nós teríamos essencialmente entretenimento.
Vale a pena destacar a este nível o papel da RTP2. Para os que sonham com a privatização da RTP e até
com a aniquilação da RTP2 este relatório devia ser lido em voz alta. Segundo o relatório, a RTP2 tem um
papel essencial na diversidade da programação, tanto noticiosa como de entretenimento; sem a RTP2 a
infância não teria uma programação própria em sinal aberto digna desse nome; e é também a RTP2 que mais
contribui para a promoção da diversidade cultural. 70% de toda a programação deste género dos quatro
canais generalistas é programação da RTP2.
A segunda nota que queria deixar é sobre a preocupante tendência de predomínio de conteúdos de caráter
comercial e de conteúdos dos Estados Unidos. Há catorze canais, dos que são analisados, que não respeitam
os mínimos estipulados por lei de obras europeias, sobretudo na programação infanto-juvenil, que é um dos
domínios onde não faltam bons conteúdos para serem disponibilizados.
Desse ponto de vista, o Canal Panda é um escândalo: 0,01% dedicado a obras europeias e é também o
canal, de todos os que são analisados, que tem o menor número de horas de programação e o maior número
de horas de publicidade e de autopromoção.
A terceira nota que queria deixar é sobre a progressiva transformação da maioria das pessoas em clientes
dos serviços de subscrição paga por cabo. Já eram a maioria em 2012. Isto tem, obviamente, uma relação
com a TDT, com o flop, o mau negócio da TDT, que ficou muito aquém do que deveria e que nem sequer
disponibiliza os canais públicos que existem no cabo, como a RTP Informação e a RTP Memória. E fica a
pergunta: se este modelo de pagar pelo acesso à televisão, que era um modelo inimaginável há 15 anos, é
uma tendência que se considera positiva. É, certamente, positiva para as empresas, mas creio que estaremos
de acordo que não é uma tendência positiva para as pessoas.
A última nota que queria deixar é sobre o poder cada vez maior de determinadas empresas. O relatório
alerta para o facto de que a Sonaecom e a Zon representavam já, em 2012, 73% dos ativos. Esta posição
absolutamente dominante não nos preocupa? Não é perigoso para a pluralidade e para a diversidade da
produção e da programação de conteúdos em Portugal que isto aconteça?
Creio que este relatório tem matéria suficiente para a reflexão, saibam as políticas públicas e o próprio
Parlamento ter essa reflexão em conta e ser consequentes do ponto de vista da ação política.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, não havendo mais inscrições, ficam assim concluídos este debate e
a nossa ordem de trabalhos de hoje.
A próxima reunião plenária tem lugar amanhã, às 15 horas, e a ordem do dia constará do debate da
interpelação n.º 21/XII (4.ª) — Centrada na continuação da política da troica pelo Governo e na afirmação da
política alternativa das soluções para o País (PCP).
Está encerrada a sessão.
Eram 17 horas e 22 minutos.
Presenças e faltas dos Deputados à reunião plenária.
A DIVISÃO DE REDAÇÃO E APOIO AUDIOVISUAL.