9 DE MAIO DE 2015
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sem ter em conta a reflexão dos peticionários e eis que a mensagem do Sr. Presidente da República acaba
por fazer com que o debate, afinal, aconteça no mesmo dia.
Srs. Deputados, o PCP mantem, nesta ocasião, exatamente o mesmo que tem vindo a dizer sobre a cópia
privada, sobre a proposta apresentada pelo Governo, tal como já havia dito sobre a proposta que tinha sido
apresentada antes disso pelo Partido Socialista e que, curiosamente, nessa altura, tantas reservas mereceu
por parte do PSD e do CDS.
As soluções que a cópia privada apresenta podem já ter sido úteis, podem já ter sido adequadas em
determinado momento histórico; hoje, estão absolutamente ultrapassadas. Por isso mesmo, geram injustiças
na sua aplicação.
Em primeiro lugar, porque o discurso em torno da justificação das taxas criadas pela cópia privada, na
prática, significa que os cidadãos serão forçados a pagar uma taxa por uma coisa que não podem fazer. Os
cidadãos serão forçados a pagar uma taxa para poderem fazer uma cópia que a lei proíbe. É certo que não é
essa a cópia que a lei prevê, mas é por essa cópia que os Srs. Deputados do PSD e do CDS tentam justificar
esta taxa.
Ao mesmo tempo, é injusta, porque afasta as populações do acesso à cultura, aumentando os preços e
criando ainda mais dificuldades no acesso à cultura e, de certa forma, generaliza usos de aparelhos e
instrumentos que podem ser diversos daqueles para os quais a cópia privada faz crer.
Há uma solução alternativa, que o PCP já propôs, por várias vezes, nesta Assembleia da República.
Partilhar não é crime e o PCP entende e propõe que, se for disciplinada e regulamentada a partilha e se os
autores e os titulares de direitos de autor e de direitos conexos forem remunerados pela partilha por aqueles
que, de facto, lucram com a partilha, que são, essencialmente, os fornecedores de serviços de Internet, então
é possível ter uma situação em que os cidadãos, sem terem custos agravados, podem partilhar as obras de
arte, mesmo que protegidas por lei, e os autores podem ser remunerados por essa partilha e por esses usos
das obras.
A opção é simples: ou insistimos nesta lei contra a cultura, contra os cidadãos, a pretexto da defesa do
direito de autor, quando, na verdade, apenas estamos a ficar presos numa situação que está obsoleta, ou
remuneramos os autores pela partilha, que é inevitável, que já se faz e que não é crime.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Dou agora a palavra, para uma intervenção, ao Bloco de Esquerda.
Tem a palavra o Sr. Deputado José Soeiro.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Queria também começar por saudar os
peticionários e por lamentar o atraso com que se aprecia esta petição. O Bloco de Esquerda também entende
que a petição deveria ter sido discutida na altura em que se discutiu a lei.
Os mecanismos de apoio à criação cultural implicam políticas públicas, implicam orçamento público,
implicam tudo aquilo que justamente este Governo não fez, o mesmo Governo que acabou, aliás, com o
Ministério da Cultura.
E nós vemo-nos numa situação em que, na cadeia de criação de valor, associada à criação artística, os
autores e os intérpretes são, muitas vezes, quem menos recebe, e isso não faz sentido. Não faz sentido que
as empresas da indústria cultural, as grandes operadoras de net ganhem mais do que os autores e os
intérpretes com os produtos culturais que eles criam, sem contribuírem e sem remunerarem esses mesmos
autores.
Vozes do BE: — Muito bem!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — O mecanismo criado por esta lei é, contudo, ineficaz, errado e injusto.
Põe criadores contra consumidores e cidadãos, taxa cada utilizador, dificultando o acesso à cultura, e mantem
a partilha ilegal como um crime, numa lógica restritiva da partilha da cultura, ao mesmo tempo que não põe os
lucros das empresas a apoiar a criação, que seria a única forma de garantir que haja mais conteúdos que