I SÉRIE — NÚMERO 86
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A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, entramos, agora, na fase das intervenções.
Para uma intervenção, pelo PS, tem a palavra o Sr. Deputado Nuno Sá.
O Sr. Nuno Sá (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Gostaria de poder saudar a bancada do
Governo, mas, incompreensivelmente, não se encontra presente neste debate, pelo que, no mínimo, manifesto
a nossa perplexidade face a esta situação. Penso — e não posso deixar de dizê-lo — que a discussão sobre o
setor cooperativo, bem como a importância deste diploma, mereciam a presença do Governo, que, aliás,
remeteu para esta Assembleia um anteprojeto de lei.
Portanto, parece-me incompreensível e não muito simpático, não querendo ser brusco nas palavras, a
ausência do Governo neste debate.
Da parte do PS, dirijo uma palavra de reconhecimento muito especial pelo papel único e estruturante, para
a nossa sociedade, do setor cooperativo.
O movimento cooperativo assume uma importância social e económica da maior relevância, bem expressa
no número de cooperativas e seus trabalhadores, na contribuição para a produção nacional em áreas tão vitais
como a da agricultura, a dos serviços e solidariedade social, a da habitação, a do consumo, a do crédito, a do
ensino e a da cultura.
Em nome do Partido Socialista, também quero manifestar apreço pelo trabalho desenvolvido pelo Conselho
Nacional para a Economia Social na preparação do projeto de reforma do Código Cooperativo.
Todos os testemunhos que nos chegaram permitem-nos afirmar que foi um verdadeiro trabalho de
concertação, com a participação empenhada dos parceiros relevantes do setor cooperativo, de
personalidades, de peritos, na busca do máximo consenso para uma reforma legal que seja um estímulo para
o relançamento do cooperativismo no nosso País.
Foi um bom trabalho que permitiu uma ampla margem de concertação, consenso e paz social. Os
responsáveis políticos deveriam, agora, prosseguir com esse trabalho e alcançar um consenso, como, aliás,
sempre aconteceu nesta matéria, consenso que esperamos que não seja impossibilitado. Aliás, vemos com
bons olhos a abertura manifesta do PSD e do CDS para, em benefício do setor cooperativo e do nosso
desenvolvimento coletivo, conseguirmos levar a bom porto esse esforço de consenso nesta matéria.
Assim, a nossa postura é de abertura em prol da mudança e, não posso deixar aqui de dizê-lo com voz e
convicção firme, ao mesmo tempo de firmeza na defesa dos princípios cooperativos. Temos uma visão
progressista e moderna para o cooperativismo. As dinâmicas de alteração progressista são para melhores
soluções, mais consentâneas com a realidade, mas sempre na garantia de que não há uma banalização
descaracterizadora e fragilizadora das cooperativas para existências ambíguas que podem ser, em última
instância, o fim das próprias cooperativas.
A economia social e, em particular, o cooperativismo é uma das raízes fundadoras do socialismo
democrático. Os socialistas comungam da história, dos princípios e da mundividência do movimento
cooperativo e o nosso trabalho conjunto foi, é e será sempre uma comprovada realidade.
Nunca qualquer política em prol da sua defesa e modernização poderá ser definida à margem e sem o
apoio do Partido Socialista, porque, além de mais, é uma das bases fundamentais do desenvolvimento
económico-social do País, cumprindo a previsão da Constituição da República Portuguesa e da Lei de Bases
da Economia Social, aprovada em 2013, por unanimidade, nesta Casa, num trabalho que pessoalmente
conheço muito bem.
Nesta perspetiva, muito nos espanta que o projeto de lei apresentado pelos partidos da atual maioria, logo
no seu preâmbulo, se refira a um setor que, do ponto de vista jurídico-constitucional e legal não existe. O
designado «setor social e solidário» não existe, sendo a designação correta «setor cooperativo e social», em
conformidade com a Constituição da República Portuguesa, ou «setor da economia social», em conformidade
com a Lei de Bases para a Economia Social.
Portanto, queremos perceber o que é este novo conceito de setor cooperativo e solidário.
Ainda no preâmbulo, são estranhamente omitidas referências às únicas, mas significativas, alterações — e
o Sr. Deputado José Manuel Canavarro mencionou-as ao de leve, se é que mencionou — introduzidas pelo
Governo, pelo PSD e pelo CDS-PP ao documento de proposta de revisão do Código Cooperativo, produzido