I SÉRIE — NÚMERO 100
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necessidade de não taparmos o sol com a peneira. É preciso garantir a sustentabilidade do sistema e que as
pessoas, os atuais contribuintes, no futuro, possam ter direito a uma pensão, como os atuais beneficiários têm.
Portanto, esta questão que lancei é para debate. Parece que há certas bancadas a quem a palavra
«plafonamento» ou a expressão «sistema misto» ou «capitalização individual complementar» é o mesmo que,
para os artistas de teatro, enunciar a palavra «Macbeth», ou seja, é algo de abominável!
Porém, é nos países onde o Estado social é mais avançado e que, de alguma maneira, são o farol que
ilumina em termos de Estado social que já se introduziram estas medidas, no sentido de salvaguardar, em
nome da solidariedade intergeracional, o pagamento das pensões dos futuros beneficiários, aqueles que estão
a descontar dos seus salários para pagar as pensões dos atuais pensionistas.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — O plafonamento é um desastre para os trabalhadores!
O Sr. Pedro Roque (PSD): — Portanto, temos de pensar no longo termo, no sentido de garantir a
sustentabilidade, mas — essa é uma garantia que o Partido Social Democrata dá — tudo se fará em
consenso, porque é fundamental que haja entendimentos de regime sobre esta matéria.
Finalmente, sobre a questão dos chamados 600 milhões, gostaria de dizer que não nos furtamos a esta
questão. Os 600 milhões inserem-se no tal princípio de que é preciso, obviamente, que haja sustentabilidade e
que as transferências do Orçamento do Estado não ponham em causa o equilíbrio desse mesmo Orçamento.
E é óbvio que, numa economia que, neste momento, apresenta aumentos do índice de emprego, que
apresenta aumentos de crescimento económico no produto interno bruto, o resultado líquido será bastante
inferior a esse. Consegue-se, por essa via também, garantir a sustentabilidade do sistema, não onerando
excessivamente o Orçamento do Estado e as suas transferências.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana
Aiveca.
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
Deputadas, Srs. Deputados: A segurança social é uma
construção do regime democrático saído do 25 de abril, pelo que temos de partir dessa base nesta discussão.
Por isso, é tão importante a discussão que o PCP aqui trouxe hoje sobre a segurança social, a sua
sustentabilidade e o seu futuro, porque é de futuro que temos de tratar.
O Governo agita o medo da insustentabilidade do sistema de segurança social para preparar novos cortes
nas pensões e empurrar novas gerações para o negócio dos fundos de pensões privados.
Esta estratégia representa um duplo perigo para o País: descredibiliza a segurança social e fragiliza a sua
sustentabilidade ao introduzir alterações de longo prazo para responder a problemas conjunturais.
Enquanto a direita pede consensos para cortar 600 milhões de euros nas pensões e baixar a TSU, o PS
propõe também baixar a TSU (4% nos trabalhadores, 4% no patrão), fazendo-se uma espécie de empréstimo
forçado sobre as pensões futuras. Não é difícil ver o resultado combinado destas medidas: os trabalhadores
ficarão pior, os pensionistas ficarão pior, os patrões ficarão melhor e a segurança social ficará em risco.
Em 2010, o País tinha 5 milhões de trabalhadores a descontar para cerca de 2,6 milhões de pensionistas.
Hoje são 4,5 milhões de trabalhadores a descontar para mais de 2,7 milhões de pensionistas.
Neste momento, o maior perigo para a segurança social é, pois, o desemprego. Nestes anos foram
destruídos 100 000 postos de trabalho por ano. A primeira medida para a sustentabilidade da segurança social
é a criação de emprego.
Mas, aos altíssimos valores de desemprego, juntou-se, nestes quatro anos, um novo risco: a quebra
salarial. As diversas medidas de corte salarial e precarização do trabalho criaram um País de baixos salários
e, portanto, também de baixas contribuições para a segurança social.
É certo que a demografia é um fator determinante sobre a sustentabilidade do sistema e Portugal corre
sérios riscos de uma inversão da pirâmide etária. E os números são arrasadores: em três anos, este Governo
fez a taxa de natalidade descer tanto como em toda a década anterior. As políticas de promoção da natalidade
são centrais, mas nenhuma será eficaz sem emprego e sem salário dignos.