I SÉRIE — NÚMERO 101
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A Sr.ª Catarina Martins (BE): — O terceiro mito é que os gregos querem uma exceção e não pode haver
exceções para a Grécia.
Vamos lá ver isto: é que não tem existido outra coisa senão exceções para a Grécia. Porque a Grécia não
pode estar nos mercados porque não tem acesso ao quantitative easing, ou seja, à liquidez do BCE a que
todos os outros países têm acesso e a Grécia não tem. Como a Grécia também não tem a dívida assegurada
em mercado secundário, como têm todos os outros países e o BCE nega à Grécia.
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — E porquê?!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Mais: o BCE tem 1900 milhões de euros gregos retidos ilegalmente.
Exceções para a Grécia todas, para a afundar. E isso é vergonhoso.
O quarto mito é que há uma intransigência do Syrisa.
O Sr. António Rodrigues (PSD): -- O quarto mito é o Bloco de Esquerda! Esse é que é um mito!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — E vamos lá a esse mito, porque também não é verdade. Têm sido feitas
negociações, e do outro lado é que está a intransigência. É de tal forma que, neste momento, o que divide a
Grécia dos outros países é 0,5% do PIB grego, que corresponde — vejam bem para ver se conseguem ver o
número, de tão pequeno que é! — a 0,01% do PIB europeu. E os senhores, mesmo assim, não cedem. E
sabem por que é que não cedem? Porque os gregos não querem cortar mais pensões que já foram cortadas
em 60%. Vejam lá, que loucura, que irresponsabilidade! Um Governo que já viu pensões cortadas em 60%
quer proteger os pensionistas e, em vez de cortar mais nos pensionistas, quer cortar nos contratos militares! E
os senhores não deixam. Sabem porquê? Porque estão a proteger as grandes empresas alemãs que querem
continuar a sangrar a Grécia e a impor-lhe contratos militares que são escandalosos — e aí é que está o
problema.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Há depois um outro mito — e vou terminar, Sr. Presidente — que é muito
perigoso e que não tem a ver com a Grécia, mas com toda a Europa. Dizem-nos que, aconteça o que
acontecer, estaremos bem.
Não é verdade.
Lembramo-nos quando nos disseram que a crise financeira era só nos Estados Unidos. Só que, depois,
chegou à Europa e 4,5 biliões de euros foram para o sistema financeiro, e estamos na crise em que estamos.
Lembramo-nos quando nos disseram que Portugal não era a Grécia e, um ano depois, Portugal tinha a
troica, como a Grécia também tinha.
Lembramo-nos também de ter ouvido Cavaco Silva dizer agora que Portugal é sólido, com a mesma
convicção com que dizia que o BES era sólido.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Os senhores são irresponsáveis. Estão a atear o fogo sobre a Europa. E,
neste momento, o que é preciso é a sensatez de defender as pessoas de um sistema financeiro que afunda a
Europa.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Termino, Sr. Presidente, dizendo isto: é preciso também a sensatez de
dizer que, quando morre gente no Mediterrâneo, não chegam «lágrimas de crocodilo», é mesmo preciso olhar
para os problemas dos refugiados, abrir a porta e ter uma política, essa sim, decente e de direitos humanos.
Aplausos do BE.