I SÉRIE — NÚMERO 101
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Por isso, também é importante que o Partido Socialista se defina, de uma vez por todas, nesta matéria, e
diga o que quer para a Grécia. É a posição de janeiro, é a posição de março ou é a posição de maio? É a
posição de um acordo? A que preço é que querem esse acordo em termos de futuro?
Aplausos do PSD.
É que nós temos de prestar contas ao povo português, em primeiro lugar, e só depois prestaremos contas
à Europa, na sua generalidade.
Sr. Primeiro-Ministro, nestes quatro anos em que discutimos aqui a Europa, partimos de uma posição em
que o País não tinha credibilidade, confiança e reconhecimento dos parceiros internacionais.
Ontem, verificámos, no conjunto da visão dos 28 Estados europeus, que 27 Estados reconheciam o papel
que todos desempenhámos para desenvolver o País, para desenvolver o futuro do nosso povo, através de
medidas claras e corajosas em muitas matérias.
Mas, para além de termos tomado uma série de posições que são relevantes para o reconhecimento do
papel de Portugal, tomámos, acima de tudo, iniciativas. Tomámos a iniciativa em matéria de união bancária,
tomámos a iniciativa em matéria de união energética e, principalmente, em projetos concretos que levámos ao
conjunto de Governos que até agora olhavam com desdém e viravam as costas a Portugal. Tal foi o caso da
Cimeira de Madrid, tal foi o caso do reconhecimento de vencermos as barreiras dos Pirenéus e de
avançarmos, mudando o paradigma do fornecimento energético da Europa, mudando o posicionamento
geoestratégico da Europa e mudando a postura e o papel de Portugal no fornecimento de bens à própria
Europa.
O Governo português teve iniciativa. Aliás, iniciativa, essa, que fica, mais uma vez, marcada no próximo
Conselho Europeu.
É relevante chamar a atenção para o facto de um jornal português ter publicado hoje uma carta aberta
onde se pode ler inúmeras posições — o Sr. Primeiro-Ministro já aqui o recordou —, como posições de vários
académicos, de vários ex-políticos, de vários investigadores, de pessoas com peso na Europa, que passaram
por vários governos da Europa, de várias inspirações políticas da esquerda à direita, incluindo pessoas ligadas
à área do Partido Socialista, apelando e subscrevendo a proposta que o Governo português apresenta ao
próximo Conselho Europeu.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP):— Bem lembrado!
O Sr. António Rodrigues (PSD): — Sr. Primeiro-Ministro, esta é que é a questão relevante no próximo
Conselho Europeu, para além da questão grega, a qual, estou seguro, será resolvida. Trata-se, pois, do futuro
de todos nós, do futuro conjunto.
Nesse sentido, só tenho de saudar o facto de o Governo português ter apresentado uma iniciativa clara,
concreta, firme, que alia posições técnicas com determinações políticas relativamente à criação de um novo
instrumento, que é o Fundo Monetário Europeu, deixando, com clareza, várias soluções que hoje são
sufragadas, também de forma clara, nessa carta aberta e que indica um caminho: a consolidação do que foi
construído nos últimos cinco anos; o novo contorno que é necessário para a zona euro; mas também, muito
mais importante, a dimensão política e o reconhecimento da iniciativa do Governo português nesta matéria.
É sobre isto, Sr. Primeiro-Ministro, que eu gostaria de o ouvir elaborar um pouco mais, porque esta é a
questão vital, enquanto em relação a todas as outras questões podemos concordar.
Quanto à questão da imigração, não é securitária, é humanitária; quanto à questão da Grécia, chegaremos,
seguramente, a acordo, porque a Europa é de 28 e não de 27. Mas o futuro da Europa, que passa pela
criação, manutenção e fortalecimento dos instrumentos que já temos, passará por quem tiver capacidade de
iniciativa e de decisão. E, quanto a isso, o Governo português, mais uma vez, foi convocado, teve iniciativa e
produziu um documento que hoje é sufragado pela transversalidade da Europa.
Perante isso, o Partido Socialista terá de assumir se está ou não de acordo com a posição do Governo
português nesta matéria, se isto representa ou não um espaço de consolidação da organização europeia e se,
desta forma, podemos ver o futuro para além da espuma da Grécia e para além da espuma de questões
menores porque essas serão discutidas. É disso que será feito o nosso futuro.