I SÉRIE — NÚMERO 103
26
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Rui Jorge Caetano (CDS-PP): — Quando o diálogo social produz efeitos não são as partes que
ficam a ganhar, não são os partidos que ficam a ganhar, mas, sim, e muito mais importante, é todo um país
que ganha e avança.
Sr.as
e Srs. Deputados, não posso concluir sem deixar de constatar que se há temática legislativa onde a
importância da sã convergência entre entidades representativas dos trabalhadores e entidades representativas
dos empregadores se reveste da maior relevância essa temática é a laboral e, nesse sentido, não deve a
Assembleia da República ser responsável por separar aquilo que a concertação social uniu.
Aplausos do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Marcelino.
A Sr.ª Catarina Marcelino (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Estamos aqui, mais uma vez, a
debater a questão das 35 horas de trabalho na Administração Pública e eu gostaria de dizer ao Bloco de
Esquerda e aos Verdes que os títulos dos diplomas não são, depois, o conteúdo dos mesmos.
De facto, há aqui dois diplomas cujo título tem a ver com as 35 horas de trabalho na função pública, ao
contrário da epígrafe do projeto do PCP que diz o que é a matéria do diploma, mas, depois, dentro do diploma,
quer Os Verdes quer o Bloco de Esquerda propõem alterações à Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas
e ao Código do Trabalho.
Portanto, estamos aqui a falar de duas matérias diferentes, que têm histórias diferentes e que têm, de
facto, formas de tratamento que consideramos diferentes.
Na Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas, quanto à reposição das 35 horas, o Partido Socialista está
de acordo com a reposição das 35 horas, acha que é urgente a reposição das 35 horas. A maioria fala de
conciliação da vida familiar com a vida profissional, ataca-nos nessa matéria, como há bocado assistimos, e,
na verdade, passou o horário de trabalho na Administração Pública de 35 para 40 horas semanais, contra a
conciliação da vida familiar com a vida profissional.
A maioria vem falar de um Estado célere, de um Estado eficaz, pois eu tenho a dizer que um Estado célere
e um Estado eficaz só se faz com trabalhadores motivados, só se faz com trabalhadores com os seus direitos
respeitados. Aliás, as 35 horas existiam na Administração Pública por negociação entre o Estado e os
trabalhadores e, unilateralmente, o Estado decidiu alterar as regras do jogo.
Ora, isto não é admissível e o Partido Socialista tem a proposta e o compromisso com os portugueses e
com as portuguesas, com a Administração Pública, de repor as 35 horas de trabalho, que são justas, porque,
para nós, um Estado forte é um Estado onde os trabalhadores estão motivados.
Ainda em relação a esta matéria, é verdade que o Tribunal Constitucional disse que a noma era
constitucional, mas também disse que poderia ser negociada na contratação coletiva e os Srs. Deputados
esquecem-se sempre dessa parte, a maioria esquece-se sempre dessa parte.
Depois, o que é que a maioria e o Governo, em particular, fizeram? Pegaram nos acordos coletivos de
entidade empregadora pública e meteram-nos na gaveta por mais de um ano! Foi isto que a maioria fez, não
respeitando o princípio que o Tribunal Constitucional tinha referido. Esta é a verdade, esta é uma verdade
indesmentível que os trabalhadores da Administração Pública conhecem e sabem muito bem que a passagem
das 35 para as 40 horas semanais é um corte salarial efetivo que foi realizado por este Governo.
Quanto ao Código do Trabalho, também aqui referido, o Partido Socialista tem uma posição muito clara: o
Partido Socialista não rejeita o debate desta matéria mas ela deve ser debatida em sede de concertação
social, através do diálogo social. Pergunto — e isto é incrível — como é que o Estado passa das 35 para as 40
horas quando no setor privado 70% das empresas portuguesas não atingem as 40 horas de trabalho
semanais?
Ora, isto mostra bem como o Estado «quer ser mais papista que o Papa» e age de forma objetiva contra os
trabalhadores, contra a Administração Pública, não querendo um Estado forte mas querendo um Estado
mínimo.