I SÉRIE — NÚMERO 107
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Aplausos do CDS-PP e do PSD.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe
Soares.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: Sr.
Ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares, sobre o repto que o Governo fez, no início deste
debate, dizendo que quer combater a informalidade e este Estado paralelo que pode existir nas fundações —
obviamente, ninguém pode negar que ele existe, por um lado, e que nós todos deveríamos ser convocados
para o combater, por outro —, quero dizer-lhe que há aqui uma notória falta de assunção de
responsabilidades, não só do Sr. Ministro, em particular; mas também da parte do Governo e dos partidos que
estiveram nos diversos Governos, ao longo das décadas de democracia, na gestão das empresas e das
autarquias.
É que, com isso, de facto, fizeram proliferar as fundações e criaram esse paralelismo, à margem do Estado,
sem controlo de vencimentos, sem controlo dos gastos, sem garantia, até, sequer, das funções sociais que
muitas destas fundações deveriam ter e sem qualquer garantia de transparência na sua atividade. Isso é um
facto.
Já agora, o que estranho é que tenha passado tanto tempo até o Governo PSD/CDS ter admitido esta
realidade, este pântano que existia no nosso país. Da parte do Bloco de Esquerda, há muito que nos
insurgimos contra esta existência.
Protestos do Deputado do CDS-PP Artur Rêgo.
Por isso, quero dizer, em primeiro lugar, no que toca a este objetivo, que quem vier por bem será bem
acolhido da nossa parte e estaremos completamente empenhados para que este objetivo seja atingido.
Não nos parece, no entanto, que ele seja assim tão genuíno da parte do Governo, até porque, como disse
o Sr. Ministro e como foi reconhecido pela maioria, aparecem aqui, não de verdadeira vontade, genuína, mas
ainda «a toque de caixa» da troica, ainda decorrentes das vontades do Memorando. Por outro lado, percebe-
se nos diversos e largos artigos desta proposta de lei, que há uma notória vontade de ter ainda, mesmo nesta
proposta de lei, uma pressão aos trabalhadores.
Se não, veja-se: a ideia de que deve existir um equilíbrio das contas das fundações, que nós
acompanhamos, é materializada, em alguns aspetos, na perspetiva da percentagem que o orçamento dessas
fundações deve ter no pagamento de salários, no pagamento de recursos humanos.
É, assim, um pouco estranho que se possa ter aqui esta obsessão pelos salários, pelos funcionários e
pelas funcionárias destas fundações. Como disse de início, não creio que estes pormenores nos possam
inviabilizar de chegar a um bom fim, mas esperemos que, de facto, seja esse verdadeiramente o objetivo do
Governo, porque chegando tarde, no tempo, chega também tarde nesta Legislatura. É quase na 25.ª hora que
este debate é aqui trazido, um pouco até baralhando as cartas que tinham sido dadas em 2012 por este
Governo, como diz um dos pareceres que foi distribuído.
Mas convém dizer que teremos abertura para, na especialidade, contribuir para este combate que achamos
essencial e que tem de ir mais fundo do que o que Governo apresenta na Lei-Quadro das Fundações.
Notamos também que esta proposta tem de vir com o reconhecimento da culpa que os partidos PSD, CDS-PP
e PS tiveram em muitas destas realidades.
Termino, dizendo que muitas destas fundações foram exatamente para os lugares dos boys e das girls que
estivemos a discutir no ponto anterior. E sabemos que não mudando nada de fundo — como vimos — nas
vontades do Governo, percebemos também que muitos boys, muitas girls continuarão a ter nestas fundações,
no futuro, o seu reconhecimento pelos serviços prestados não à Nação, não ao interesse público, mas aos
interesses partidários.
Aplausos do BE.