I SÉRIE — NÚMERO 109
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Vejamos, porque a questão é absolutamente clara: a mulher pode interromper uma gravidez até às 10
semanas por sua opção. Introduzir consultas obrigatórias é uma menorização, uma limitação da sua liberdade
e até um caso único em termos de cuidados de saúde.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Seja esclarecida!
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — A mulher pode abortar? Pode! É ela que decide? Sim, mas não pode decidir
sozinha — é isto que os senhores estão a dizer! Vergonha! Vergonha, Sr.as
e Srs. Deputados do PSD e do
CDS!
Aplausos do BE e do PS.
Protestos do PSD e do CDS-PP.
A história da despenalização do aborto no nosso País é longa. Só em 2007, 33 anos depois do 25 de Abril,
se colocou um fim à humilhação das mulheres que abortavam. Eram apontadas a dedo, levadas a tribunal e
pendia sobre elas uma pena de prisão. Muitas destruíram a sua saúde! Todas sabemos das mazelas e do
sofrimento a que o aborto clandestino condenou milhares de mulheres. Todas! E falo no feminino, Sr.as
Deputadas!
Aplausos do BE e do PS.
Protestos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Miguel Santos (PSD): — É uma vergonha!
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Todas sabemos o que sofreram no corpo e na alma as gerações das nossas
mães e das nossas avós. E agora, passados oito anos da aplicação de uma lei equilibrada, aprovada por larga
maioria deste Parlamento — também com os vossos votos, Srs. Deputados! —, uma lei que é aplicada,
monitorizada e que tem tido resultados muito positivos (o número de abortos em Portugal tem vindo a diminuir
e está abaixo da média europeia), vem a direita introduzir estas alterações.
Não se trata de proporcionar mais informação às mulheres e, muito menos, mais apoio — isso já a lei
contempla —, trata-se de introduzir na lei procedimentos que visam criar obstáculos ao processo da IVG, trata-
se de dizer que as mulheres não são livres, não têm direito a decidir, têm de ser tuteladas e têm de ser
dissuadidas quando decidem interromper uma gravidez.
Aplausos do BE e do PS.
A Sr.ª Presidente: — Queira concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Vou terminar, Sr.ª Presidente.
Estas alterações podem hoje ser aqui votadas por uma maioria que decidiu, no último dia da Legislatura, ir
contra uma decisão tomada em referendo e legitimar com o seu voto uma afronta aos direitos das mulheres,
de todas as mulheres.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Não é verdade!
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Quando votarem estas alterações os senhores estão a dizer ao País que as
mulheres que realizarem uma IVG por sua opção, como constava, de forma absolutamente clara, na pergunta