I SÉRIE — NÚMERO 18
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O Sr. BrunoDias (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Portugal continua com elevados custos
energéticos, em comparação com os restantes países da União Europeia e da zona euro, com graves
consequências para os orçamentos familiares e para a competitividade das suas empresas e setores produtivos,
o que acontece em todas as formas de energia, incluindo, evidentemente, combustíveis líquidos, gasolina e
gasóleo.
Nem o período prolongado de preços historicamente baixos no petróleo e no gás natural atenuou e menos
ainda reduziu aqueles custos energéticos.
Este é o resultado — como o PCP preveniu e muitas vezes denunciou — da política de direita, que privatizou,
liberalizou e segmentou as cadeias de valor da refinação de petróleo, liquidando as empresas públicas, o que
significou entregar os aparelhos produtivos, comercializadores e o mercado energético na mão de monopólios
privados, em geral dominados por capital estrangeiro. Assim, submeteu-se o preço e o acesso a um bem
essencial, como é a energia, aos interesses e aos lucros de grandes grupos económicos, que, inevitavelmente,
monopolizam esses mercados.
A situação atual evidencia também a enorme fraude montada pelo neoliberalismo em torno da pretensa
atividade reguladora e controladora das ditas «entidades reguladoras» sobre esses monopólios.
Resulta claro o enorme falhanço, se assim pudermos dizer, da Autoridade da Concorrência, da ERSE
(Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos) e da ENMC (Entidade Nacional para o Mercado de
Combustíveis) na defesa dos interesses públicos e nacionais, mas também resulta claro que a solução estrutural
para o problema passa, e passará, pelo controlo público deste importante setor da economia nacional.
De acordo com os dados oficiais referentes ao mês passado, Portugal é o décimo primeiro país, dos 28 da
União Europeia, com o mais alto preço médio de venda ao público do gasóleo e o sétimo, dos 28, da gasolina.
E os preços continuam a subir, quer em cadeia, quer em termos homólogos.
O PCP reafirma que é necessário aliviar a carga fiscal neste domínio, mas é inaceitável que se continue a
deixar intocados os lucros milionários, as margens milionárias dos grupos económicos do setor petrolífero.
No quadro atual, a proposta do PCP, que agora apresentamos, inclui três vertentes fundamentais: em
primeiro lugar, um sistema de regulação dos preços dos combustíveis que permita não só limitar os custos para
os consumidores e as empresas mas também regimes diferenciados para setores produtivos, a pequena
camionagem, o setor do táxi; em segundo lugar, a promoção do acesso a combustíveis alternativos ao nível das
redes de abastecimento, da legislação e da regulamentação, do uso do gás natural no transporte rodoviário de
mercadorias e passageiros; e, finalmente, a tomada de medidas que promovam o escrutínio e a fiscalização do
que se passa no mercado dos combustíveis, quer a nível nacional, quer a nível internacional.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. BrunoDias (PCP): — É que a sacrossanta concorrência do mercado liberalizado neste setor em
particular, pelos vistos, é mesmo uma questão de fé, é tratada como um dogma, mas, neste caso, está muito
longe da realidade. E, sobre a própria transparência dos processos de fixação dos chamados «índices de
preços», como é o caso do Platts/NWE/Roterdão ou do Platts/MED/Lavera, há anos que o PCP vem alertando
para esta realidade. Está mais do que na hora de passar à prática!
São propostas concretas e objetivas, são soluções que visam contribuir para uma resposta adequada a este
problema que é tão sentido na pele e na carteira pelas populações e pelas micro, pequenas e médias empresas.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Srs. Deputados, como a Mesa não regista inscrições, podemos passar
ao próximo ponto da nossa ordem de trabalhos.
Pausa.
Entretanto, inscreveu-se, para uma intervenção, o Sr. Deputado do PSD Joel Sá.
Tem a palavra, Sr. Deputado.