4 DE NOVEMBRO DE 2016
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O Sr. Presidente: — Sr. Ministro, inscreveram-se, para pedir esclarecimentos, três Srs. Deputados, pelo que
gostava de saber como pretende responder.
O Sr. Ministro da Economia: — Responderei em conjunto, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: — Muito bem, Sr. Ministro.
Assim sendo, tem a palavra, em primeiro lugar, o Sr. Deputado Bruno Dias.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Ministro da Economia, pela parte do Partido Comunista
Português, já foi colocada, neste debate, com toda a clareza, a apreciação que fazemos da proposta de
Orçamento do Estado e da oportunidade que representa para o País, a qual não deve ser subestimada ou
desperdiçada. Refiro-me à oportunidade para repor e conquistar direitos, para consolidar e prosseguir com
avanços e medidas justas que permitam cortar com o rumo de desastre nacional, de exploração e
empobrecimento que a política de direita impôs aos trabalhadores, às populações, às micro, pequenas e médias
empresas.
Neste debate e no trabalho que temos pela frente, cá estaremos para intervir, com o objetivo de limitar
aspetos negativos que o Orçamento comporta e inscrever novos avanços necessários à melhoria das condições
de vida das pessoas.
É nesse sentido que queremos destacar duas questões de grande importância neste debate. A primeira
questão é a do apoio às micro, pequenas e médias empresas, designadamente com a redução do valor do
pagamento especial por conta. O PEC é uma aberração endémica que, pura e simplesmente, já não devia existir
e é urgente avançar para a sua eliminação e substituição por critérios coerentes e adequados a uma política de
justiça fiscal. É esta a proposta do PCP e está na altura de, finalmente, avançar nesse sentido. A redução do
limite mínimo para 850 € é uma medida importante que deve ser considerada desde já como princípio do fim do
PEC.
A segunda questão é também uma questão central para as condições de vida dos portugueses e para as
empresas nacionais. Falamos da redução da fatura energética para a população e para a atividade económica,
designadamente para os setores produtivos.
É que nós bem nos lembramos da situação crítica que as empresas, em particular as micro, pequenas e
médias empresas, enfrentaram ao longo destes anos, com os custos com a energia a atingirem valores
incomportáveis.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — E ficámos ontem a saber que, enquanto estas empresas se debatiam com estes
problemas, enquanto a produção nacional era penalizada, enquanto se destruíam postos de trabalho, enquanto
as famílias desesperavam para pagar as contas e enquanto a Galp se recusava a pagar a contribuição
extraordinária sobre o setor energético, enquanto isso acontecia, a Galp fazia negócio nos mercados
internacionais, com mais-valias ilegítimas resultantes dos contratos de fornecimento de gás natural. São
margens comerciais que, segundo a ERSE, deverão chegar a 1158 milhões de euros no período total em análise
— um verdadeiro escândalo nacional que não pode ficar impune! Tem de se devolver aos consumidores
portugueses o que não pertence à Galp e isto significa reduzir os preços do gás natural em termos que
correspondam ao que está em causa, desde logo, com este processo.
Sr. Ministro da Economia, a realidade que se impõe na economia e na vida nacional é de agudização do
confronto dos grupos monopolistas com os interesses do povo e do País, nas relações de trabalho, onde
procuram forçar o agravamento da exploração, nos setores e áreas económicas de diverso tipo, onde se
esmagam as pequenas empresas e se ditam opções favoráveis para os grupos monopolistas. É isto que sucede
nos setores estratégicos, com o endividamento e descapitalização de empresas e com opções de gestão
ruinosas e alheias ao interesse do País, como o demonstram a evolução em empresas como os CTT e a TAP
ou os investimentos da EDP nos Estados Unidos ou a gestão da Cimpor em Portugal. Está bem à vista o
resultado para o País deste domínio dos grandes grupos económicos e das transnacionais, em confronto direto
e no comprometimento do interesse nacional e do direito do povo português a um País soberano e desenvolvido.