5 DE NOVEMBRO DE 2016
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nossa dívida, como o faria qualquer ator económico razoável e como aceitaria qualquer credor razoável, sem
isso, não há baixa decimal dos juros que nos valha.
Sucede, Sr.as e Srs. Deputados, que a União Europeia não se porta como um ator razoável nem como uma
pessoa de bem. O extremismo do absurdo das regras antieconómicas impostas discricionariamente é a Europa
realmente existente. Sermos cordiais com isto não é ganhar credibilidade, é deixarmo-nos aprisionar.
Salvo o Luxemburgo, nenhum Estado cumpre as regras do tratado orçamental. Mas há os que são premiados
por isso e há os que são punidos por isso.
A Alemanha do Sr. Schäuble viola grosseiramente as regras acumulando excedentes. Mas, claro, a
Alemanha é a Alemanha! A França de François Hollande nunca cumpriu a regra do limite do défice mas, com a
compreensão de que só os bons amigos e companheiros de façanha são capazes, a Comissão, chefiada por
Durão Barroso e por Jean-Claude Jüncker aceita acordos informais, secretos ou não, para que se maquilhem
as contas e tudo pareça aquilo que não é. Mas, claro, a França é a França!
Quer dizer, quem manda pode incumprir grosseiramente as regras e tudo lhe é perdoado e para Portugal
sobra a permanente perseguição contra qualquer sonho de ter uma banca pública que se comporte mesmo
como banca pública. Para Portugal sobra a espada das sanções sempre pendente sobre cada décima do deve
e do haver.
Enquanto não marcarmos a nossa relação com a União Europeia com a recusa desta indignidade que é os
fortes tudo poderem e os mais fracos só poderem ser chantageados, cada discussão de um Orçamento arrisca-
se a ser um exercício menor de contagem de tostões porque os milhões, esses, já têm destino traçado.
Aplausos do BE.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, este é o segundo Orçamento que recupera rendimentos para os de
baixo. Agora, é imperativo recuperar investimento. Sabemos que isso nos põe em confronto com os mandadores
de uma Europa que faz do benefício dos de cima a sua razão de ser. O Bloco não faltará a esse confronto, em
nome de uma democracia mais forte.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — A Mesa regista, até agora, apenas um pedido de
esclarecimento.
Tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Abreu Amorim, do PSD.
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Deputado José Manuel Pureza, em bom rigor, o
Sr. Deputado, neste debate orçamental, falou de tudo e, como costuma dizer o povo, de «um par de botas». Só
não falou foi do Orçamento.
De alguma maneira, essa lacuna tem sido amplamente colmatada pela vossa líder, a Sr.ª Deputada Catarina
Martins, que tem dito do Orçamento, para além de um ou dois chavões a que já nos habituou, que este não é o
Orçamento que queria mas é o Orçamento possível. É o Orçamento do PS, sempre a mandar a responsabilidade
daquilo que é mau para o PS, mas não é o Orçamento com as propostas que o Bloco de Esquerda preferiria e
que o Bloco de Esquerda faria, se fosse Governo.
Será por não fazerem parte formal do Governo? Faz-me lembrar um pouco, esta atitude do Bloco de
Esquerda, a de um conhecido treinador de futebol que, quando sofreu um castigo que o impediu de estar no
banco, se declarou «imponente em mudar a realidade das coisas e o curso dos acontecimentos». E o Bloco
está mais ou menos na mesma situação. O Bloco também se sente «imponente» na sua impotência de mudar
as coisas e poder, digamos assim, neste Orçamento, fazer um bocadinho, mas apenas um bocadinho, colocando
em letra de lei e em propostas a muita retórica que nos últimos anos têm feito sobre a banca, sobre tudo que
não seja taxar o sol, que não seja taxar a chuva, taxar o lusco-fusco, taxar este mundo e outro, enfim…
Protestos do BE.