5 DE NOVEMBRO DE 2016
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V. Ex.ª não justifica hoje, aqui, por que é que exclui do aumento extraordinário de 10 € as pensões de cerca
de 1 milhão de portugueses, que são os pensionistas mais pobres. Sr. Ministro, não queremos acreditar que
seja por uma danada vontade de injustiça social e de insensibilidade social de V. Ex.ª, embora seja verdade que
V. Ex.ª pertenceu a um governo em 2010 que, sem haver troica, congelou generalizadamente todas as pensões.
Mas pensávamos que V. Ex.ª tinha aprendido e hoje não iria brindar os mesmos pensionistas, 1 milhão de
pensionistas, com cortes no seu rendimento.
Aplausos do PSD.
Faça favor de nos explicar, porque não aceitamos aquela explicação cínica de que este 1 milhão de
pensionistas não vai ter aumento das pensões porque teve um aumento acima da inflação nos últimos quatro
anos.
Outra questão, Sr. Ministro, é a seguinte: é evidente que concordamos com o aumento extraordinário dos 10
€ para um milhão e meio de pensionistas. É evidente que concordamos.
O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares (Nuno Pedro Santos): — Concordam?!
O Sr. Adão Silva (PSD): — Concordamos, sim senhor.
Mas perguntamos-lhe: porque não a partir de janeiro, Sr. Ministro? É uma boa pergunta. VV. Ex.as dão a
última parte dos 10 € em agosto e nós somos tentados a pensar o seguinte: em agosto, estamos em véspera
das eleições que se realizam em setembro e estamos em campanha eleitoral. Não queremos pensar que é
porque estamos já em véspera de eleições autárquicas que VV. Ex.as vão dar esses 10 € de aumento ao tal um
milhão e meio de pensionistas, esquecendo o outro 1 milhão de pensionistas. Explique-nos, Sr. Ministro, por
que razão é que não dão esse aumento no tempo normal, isto é, a partir de janeiro?
V. Ex.ª, há oito dias, já ensaiou aqui uma resposta, dizendo que não havia dinheiro na segurança social.
Bom, mas as contas são fáceis de fazer, seria reduzir um pouco esses 10 €, mas começar a partir de janeiro.
Nós aceitamos que V. Ex.ª possa ter razão, não há dinheiro na segurança social. No entanto, V. Ex.ª diz:
«Não, não, isto está muito sustentável, está sustentável a longo prazo».
Sr. Ministro, vamos falar a sério. Vamos falar sobre o futuro da segurança social.
A segurança social vai ter neste ano mais uma transferência do Orçamento do Estado, dos impostos de todos
os portugueses, de 420 milhões de euros, totalizando, nestes últimos anos, cerca de 5500 milhões de euros. É
muito dinheiro e prova que o nosso sistema de segurança social está num estado de pré-falência, num estado
«ligado à máquina».
V. Ex.ª sabe que para 2017 as contribuições crescerão menos 260 milhões de euros do que o previsto em
2016, durante o seu Governo. Menos 260 milhões de euros, este pulmão da segurança social.
V. Ex.ª sabe também que foi criado um imposto de 160 milhões de euros que fica consignado à segurança
social, um imposto que os senhores querem que seja bom. É um mau imposto, evidentemente, mas querem que
seja um imposto bom porque fica ligado à segurança social. Isto é, de alguma maneira, a confissão de que há
um problema sério na segurança social.
Ainda uma quarta razão, Sr. Ministro: VV. Ex.as têm previsto um corte de 1020 milhões de euros na segurança
social e nas pensões. Aliás, olhando para um quadro que têm na página 247 do relatório da proposta de
Orçamento do Estado, é já notória a redução da despesa com pensões em 2018, em 2019 e em 2020. Algo está
para se passar na segurança social!
VV. Ex.as dizem: «Não, não, com isto garantimos mais seis anos de sobrevivência da segurança social». E
eu digo-lhe: «Ó Sr. Ministro, que saudades que temos de um governante do Partido Socialista que no ano de
2000 dizia: ‘Com a reforma que fizemos, isto dá para 100 anos!’».
Risos e aplausos do PSD.
Numa outra proclamação que V. Ex.ª fez em 2007, disse: «Com esta reforma de 2007, já não dá para 100
anos, mas dá para 50 anos». VV. Ex.as agora dizem que só dá para seis anos.