I SÉRIE — NÚMERO 27
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também foi ignorada durante os últimos quatro anos, a da modernização administrativa, a da modernização dos
serviços e da forma como os serviços devem ser não só de proximidade como também de celeridade e de
capacidade de utilização das novas tecnologias, ou seja, tudo aquilo que, durante quatro anos, muito
carinhosamente, imagino, guardaram na gaveta mais profunda da Gomes Teixeira, mas que, felizmente, voltou
a ver a luz do dia.
O Sr. Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — E, felizmente, quer no plano supramunicipal, quer no plano municipal,
quer no plano das freguesias, quer no plano da articulação de acordo com o princípio da subsidiariedade em
todos estes níveis, o atual Governo, mais uma vez e finalmente, traz-nos uma reforma digna desse nome, uma
reforma estrutural, fundamental para o País, que finalmente poderá concluir.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Pedro Delgado Alves, muito obrigado pelas
questões que colocou. Verifico com satisfação que o principal partido que apoia este Governo se revê na agenda
reformista que o Governo apresenta e, em particular, no programa descentralizador, de confiança nos nossos
municípios, nas nossas freguesias, nas áreas metropolitanas e na sua capacidade de poderem crescer e assumir
maiores responsabilidades no âmbito das comissões de coordenação e desenvolvimento regional (CCDR).
Este debate foi bastante ilustrativo da estratégia que o PSD tem — e, às vezes, também o CDS, mas,
sobretudo, o PSD — relativamente à situação do País.
Fogem «como o diabo da cruz» a debater qualquer problema de substância, qualquer questão de fundo.
Aquilo que lhes interessa são os faits divers e as petites histoires, que vão pontuando aqui ou ali, os incidentes
que acontecem em qualquer circunstância.
Protestos de Deputados do PSD e do CDS-PP.
Sobre o sistema financeiro, admitíamos que o PSD já tivesse tido a humildade que a Comissão Europeia
teve no seu último relatório de avaliação sobre a execução do programa de ajustamento, reconhecendo que o
grande erro desse programa foi, em Portugal, ao contrário do que aconteceu, por exemplo, em Espanha, não
se ter dado prioridade a atacar e a resolver os problemas do sistema financeiro e ter-se deixado esses problemas
por resolver.
O relatório do FMI, de avaliação do seu programa, sublinha exatamente o mesmo. E esta opção do PSD não
foi uma opção ao acaso, não foi distração, nem incompetência. O que aconteceu foi que, no momento do
programa de ajustamento, do que se tratava era de diabolizar tudo o que era público para destruir o Estado e
não resolver os problemas efetivos da crise em que tínhamos mergulhado.
Aplausos do PS.
E a verdade é que o Governo anterior aceitou passivamente que um banco como o BES se tivesse permitido
dizer que não necessitava dos fundos disponibilizados pela troica para a sua capitalização, para, depois, acabar
por ser resolvido às mãos do Governo, destruindo valor e criando um enorme prejuízo à economia portuguesa.
Como é que é possível ter-se aceite com tranquilidade que parte das verbas disponibilizadas pela troica para
a capitalização da banca tenham ficado por utilizar como se elas não fossem necessárias para termos bancos
mais fortes, mais capitalizados e em melhores condições de financiar a economia?
Como foi possível, ao longo daqueles anos, sabendo-se que um dos principais bancos portugueses estava
obrigado pelas instituições de supervisão a desconsolidar a sua participação internacional em Angola, que nada
tivesse sido feito que impedisse um bloqueamento da situação acionista e a ultrapassagem desta situação?