25 DE JANEIRO DE 2017
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De facto, ao contrário do que aconteceu em 2005, quando se trabalhou e se conseguiu um acordo entre
confederações sindicais e patronais para o aumento do salário mínimo, desta vez houve um acordo coxo, ferido
de representatividade, que ignorou a maior central sindical e as suas propostas. No contexto em que vivemos,
isso é particularmente errado, porque nunca como hoje precisámos tanto de dar um sinal sobre a importância
da negociação entre os parceiros e, em particular, sobre o principal instrumento dessa negociação, que se
chama contratação coletiva, que é o fundamento da democracia laboral.
Na realidade, ao longo dos últimos anos, ao mesmo tempo que os responsáveis políticos enchiam a boca
com a suposta valorização da concertação social, desmantelaram, na prática, o mecanismo mais importante e
mais poderoso dessa concertação, que é o sistema de relações coletivas de trabalho. O desequilíbrio
introduzido, nomeadamente com a caducidade das convenções coletivas de trabalho e com a precarização das
relações laborais, corroeu qualquer possibilidade de uma negociação séria, porque a substituiu pela imposição
dos interesses de uns sobre os direitos de outros. Sem repor o equilíbrio na relação entre parceiros, o respeito
pela negociação entre as partes será apenas «verbo de encher».
Sr.as e Srs. Deputados, o debate de hoje é sobre uma medida concreta: o desconto na TSU. A decisão que
temos de tomar hoje é só uma: a medida deve ou não ser anulada.
Portugal é uma democracia assente na vontade soberana do povo, de que este Parlamento é uma expressão.
Numa democracia, não há câmaras corporativas, nem grémios com direito de veto sobre o poder legislativo.
Numa democracia, o poder económico submete-se ao poder político e à soberania popular.
Hoje, e aqui, o Bloco de Esquerda assume a responsabilidade republicana e democrática do seu mandato.
Hoje, e aqui, reafirmamos o nosso compromisso de sempre para com quem vive do seu trabalho e luta pela
dignidade do seu salário.
Hoje, e aqui, decidimos com fidelidade ao nosso programa e com a transparência de sempre sobre as nossas
posições.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Rita Rato.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A decisão tomada pelo Governo de oferecer
a redução da TSU como moeda de troca ou contrapartida pelo aumento do salário mínimo nacional deve hoje
ser revogada pela Assembleia da República, porque é uma medida errada e prejudicial aos trabalhadores e
porque são o Governo e a Assembleia da República os órgãos com competência para tomar decisões em
matéria laboral.
A decisão desta e de outras matérias da legislação laboral não é competência nem responsabilidade da
concertação social, é competência do Governo e da Assembleia da República no uso dos seus poderes próprios
que a Constituição prevê.
Aplausos do PCP.
O aumento do salário mínimo nacional é uma exigência de dignidade e não deve ter contrapartidas para além
do trabalho prestado por cada trabalhador. O trabalho prestado por cada trabalhador é mais do que suficiente
para justificar muito mais do que o salário mínimo.
Mesmo que o aumento seja maior, a cada trabalhador continua a ser extraída uma parte do seu trabalho,
que reverte para o capital. Nada justifica que, além disso, ainda seja usado dinheiro do Orçamento do Estado.
Ao mesmo tempo, a redução da TSU significa a opção do Governo por um estímulo à política dos baixos salários.
Regista-se, ainda, que o Governo, fazendo depender a decisão da concertação social sobre o salário mínimo,
bem como sobre outras matérias, não só não está a cumprir as suas funções como limita as competências da
Assembleia da República e atribui uma espécie de direito de veto às confederações patronais. São razões mais
do que suficientes para derrotar tal medida e, por isso, o PCP requereu a apreciação parlamentar do diploma
do Governo e propõe a cessação da sua vigência.