16 DE FEVEREIRO DE 2017
5
subfinanciamento que acompanhou as autarquias ou pelo contínuo arbítrio de incumprimento dos regimes
financeiros em vigor e a restrição e ingerência na autonomia local, muito agravada num passado recente.
A asfixia financeira imposta às autarquias por PSD e CDS, a par da aniquilação da sua autonomia,
dificultaram bastante a atividade da intervenção, cujas consequências ainda hoje se sentem. Diria que a primeira
prioridade é repor as condições para que as atuais competências sejam cabalmente realizadas.
A descentralização de competências exige a identificação e avaliação dos seus impactos e da sua perspetiva
de evolução quanto às condições financeiras, humanas, organizacionais e materiais. A autonomia administrativa
e financeira das autarquias é condição para o pleno exercício das atribuições e competências. De outra forma,
o que se está a fazer é a transferir novos encargos e problemas não resolvidos, cuja resolução permanecerá
comprometida.
Descentralizar não pode significar a desresponsabilização do Estado, não pode corresponder à transferência
de encargos e de descontentamento das populações relativamente ao que é incómodo para o Governo,
passando o odioso para os outros, não pode colocar em causa a universalidade de funções sociais do Estado e
de direitos constitucionais, nem introduzir mais desigualdades e mais assimetrias entre os territórios.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — A proximidade e o conhecimento da realidade concreta são aspetos que
valorizamos. A questão central, no entanto, não está na proximidade, nem no melhor conhecimento da realidade,
mas, sim, na garantia dos meios adequados para dar a resposta à altura de cada situação ou problema concreto.
O princípio da subsidiariedade não se afere pelo nível mais próximo de exercício de uma determinada
competência, mas, sim, pela identificação do nível de administração que está em melhores condições de a
exercer com proximidade.
Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente Jorge Lacão.
O Sr. Presidente: — Atenção ao tempo, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Vou terminar, Sr. Presidente.
Há quem insista em tratar a descentralização, a desconcentração e a transferência de competências como
se fosse tudo a mesma coisa. Sem prejuízo do papel das estruturas desconcentradas na organização da
administração do Estado — aliás, crescentemente reduzidas e afastadas das populações e dos territórios —, a
desconcentração tem sido apresentada e defendida em oposição à descentralização, iludindo a sua distinta
natureza.
Descentralizar implica o poder de executar, mas também, e indispensavelmente, o poder de decidir. É neste
sentido que irão as nossas propostas.
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Aproveito para solicitar aos Srs. Deputados que, durante a intervenção
do orador inscrito para a respetiva declaração política, se inscrevam, quando quiserem pedir esclarecimentos.
Informo que se inscreveram quatro Srs. Deputados para pedir esclarecimentos à Sr.ª Deputada Paula Santos
e que a Sr.ª Deputada responde, primeiro, a dois Srs. Deputados e, depois, aos outros dois Srs. Deputados.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Berta Cabral,
do PSD.
A Sr.ª Berta Cabral (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Paula Santos, quero,
desde logo, saudar o PCP por trazer este tema hoje a debate, depois da audição que tivemos ontem com o Sr.
Ministro Adjunto. É, de facto, uma oportunidade de, em Plenário, cada partido poder acentuar, definir, clarificar,
a sua posição relativamente a esta matéria da descentralização.