I SÉRIE — NÚMERO 57
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25 de Abril e Vasco da Gama —, quer à privatização da TAP (Transportes Aéreos Portugueses) entregando-a
parcialmente a David Neeleman.
A troco de 3000 milhões de euros pagos «à cabeça», que a Vinci terá integralmente recuperado em pouco
mais de 10 anos, o Governo PSD/CDS cedeu a exploração dos aeroportos nacionais por 50 anos,
condicionando, dessa forma, a decisão soberana do País sobre uma infraestrutura estratégica.
Tal como o PCP denunciou na altura, as consequências da privatização da ANA têm feito sentir-se de forma
negativa no País. As receitas que possibilitaram durante décadas que a pública e lucrativa ANA assumisse quer
o investimento, quer a modernização de todos os aeroportos nacionais, passaram a ir diretamente para o
estrangeiro, designadamente para a remuneração dos acionistas da Vinci.
Estão à vista as consequências da privatização da ANA: o aumento das taxas e tarifas aeroportuárias; o
desinvestimento significativo na infraestrutura; a transformação dos aeroportos numa espécie de centros
comerciais, em detrimento das condições de segurança; o ataque aos direitos dos trabalhadores — que o digam
os trabalhadores do handling e, em particular, da Portway, que o digam os assistentes de portos e aeroportos.
A construção faseada do novo aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete, cujos terrenos são inteiramente
públicos e permitem expansão, é a opção que corresponde a uma visão estratégica para o desenvolvimento
integrado da economia e do território,…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — … mas sabemos que é a que colide com os interesses da multinacional Vinci,
apenas interessada em maximizar durante 50 anos as suas receitas com o menor custo possível.
Agora, perante a decisão reiterada de ignorar todo o processo de avaliação estratégica realizado e cumprir
a agenda da multinacional Vinci na opção Portela+1, que foi rejeitada há 10 anos, importa discutir o ponto de
situação deste processo e da sua evolução até agora, face aos compromissos assumidos pelo anterior Governo,
PSD/CDS, e agora reafirmados pelo atual Governo.
Assim, o Grupo Parlamentar do PCP irá requerer, na Comissão Parlamentar de Economia, Inovação e Obras
Públicas, a audição sobre os investimentos em infraestruturas aeroportuárias, para ouvir os ex-governantes
Sérgio Monteiro, António Pires de Lima, Maria Luís Albuquerque, ouvir o Sindicato dos Trabalhadores da Aviação
e Aeroportos e a Associação dos Pilotos de Linha Aérea, e, finalmente, ouvir, especificamente sobre esta
matéria, o Sr. Ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, as opções para a rede dos aeroportos nacionais são opções
estratégicas para investimentos estruturantes do desenvolvimento e é uma vergonha que se consagre ou
decrete a incapacidade do País para decidir soberanamente as opções estratégicas do seu desenvolvimento e
do seu futuro.
O País não pode ficar durante 50 anos sem as receitas aeroportuárias e, no final desse período, ficar também
sem o novo aeroporto de Lisboa.
A pressão colocada nos últimos anos pelo aumento significativo do turismo e do tráfego aéreo, associada às
limitações que têm estado presentes no plano do investimento público, não deve dar lugar a decisões
precipitadas que hipotequem o desenvolvimento do País, mas, antes, à adoção das medidas que, respondendo
aos problemas do presente, não comprometam o futuro.
Para o PCP, a exigência da recuperação do controlo público da ANA — e também da TAP —, cujas receitas
suportariam a construção do novo aeroporto de Lisboa, pressupõe também que o Estado português enfrente os
interesses da multinacional Vinci. É isso que se exige do atual Governo.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Sr. Deputado Bruno Dias, há quatro inscrições para pedidos
de esclarecimento. Como pretende responder?
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, responderei, primeiro, a dois Srs. Deputados e, depois, a outros
dois Srs. Deputados.