9 DE MARÇI DE 2017
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A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Há, no entanto, uma coisa que fica clara: quanto mais tempo passa sobre
a derrota da direita nas eleições de 2015 e sobre a capacidade de trabalho de uma outra maioria, mais sem
argumentos, mais desesperada, eventualmente mais ressabiada, devo dizê-lo — perdoe-me, Sr. Deputado, mas
é o que está à vista —, fica a bancada do PSD. Teremos, talvez, de saber viver com isso, mas digo-lhe
sinceramente que acho que não está a fazer nenhum bom serviço ao País com esta crispação ou com esta
forma de fazer o debate.
Aplausos do BE e do PS.
Mas vamos ao concreto. No Bloco de Esquerda, como é sabido, aliás, sempre soubemos fazer oposição com
a energia que achámos necessária, nunca escondemos divergências com nenhum governo e com este também
não. Achamos que é assim o debate político, não somos de paninhos quentes, mas achamos que tem de ser
sobre a vida das pessoas. Alguém tem de perceber do que é que estamos aqui a falar e, muito sinceramente,
acho que ninguém percebeu nada dos últimos momentos. Falemos português, falemos de coisas concretas,
para começar.
Do debate anterior há talvez uma observação que merece alguma nota do Bloco de Esquerda, que é a
seguinte: sobre offshore há muito ainda a saber e o Bloco de Esquerda cá está não só para saber o que se
passou mas para fazer as alterações legislativas necessárias para que não volte a acontecer.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª CatarinaMartins (BE): — Porém, o que sabemos é que Paulo Núncio veio aqui à Assembleia da
República dizer que não quis a publicação das transferências, não explicou por que é que não a quis e o facto
de terem pedido essa publicação fez com que os erros fossem detetados mais tarde. Essa é a única certeza
que nós temos até agora.
Aplausos do BE.
É por isso, e talvez porque à medida que o tempo passa os erros do anterior Governo são mais claros, que
fica a direita tão nervosa, mas nem a divergência é ofensa nem a democracia significa que há instituições
intocáveis ou que há qualquer tipo de dirigente que não pode ter crítica. E é por isso, também, que não aceitamos
o que foi dito na última semana pelo PSD sobre as posições do Bloco de Esquerda em relação ao Banco de
Portugal. O Banco de Portugal não está acima de crítica e criticá-lo não é atentar contra a independência do
supervisor.
No caso do Bloco de Esquerda, critica-se o Governador do Banco de Portugal precisamente porque ele se
mostrou incapaz de independência.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Não foi independente dos banqueiros porque lhes fez todos os favores e
não foi independente do Governo do PSD/CDS porque arrastou o problema do BES para ajudar à farsa da saída
limpa da mesma forma que arrastou o problema do BANIF para ajudar às eleições de 2015.
Aplausos do BE.
É por isso que Carlos Costa, por muito que queira explicar hoje, e explique, não conseguirá nem apagar os
erros do passado nem sossegar o País sobre o futuro e também é por isso que não tem condições para
continuar.
Aplausos do BE.
Sr. Primeiro-Ministro, tinha pensado iniciar este debate sobre políticas concretas com o tema do dia.