I SÉRIE — NÚMERO 60
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Hoje, é Dia da Mulher, houve avanços em Portugal, seguramente, mas há muitas áreas em que temos de
trabalhar.
No nosso País, a cada semana que passa uma mulher é assassinada ou é vítima de tentativa de homicídio
pelo seu companheiro ou ex-companheiro.
As mulheres, em Portugal, são mais vítimas de pobreza, são mais precárias e todos os anos lhes é retirado
dois meses de salário face a um homem com trabalho igual. As poucas mulheres que conseguem cargos de
chefia sabem que vão ganhar menos quatro meses de salário em relação a um homem que desempenhe as
mesmas funções.
Portanto, falar do Dia da Mulher é, seguramente, falar das condições em que as mulheres trabalham no
nosso País.
O Sr. PedroFilipeSoares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª CatarinaMartins (BE): — Sr. Primeiro-Ministro, há duas questões muito concretas que queria abordar
sobre os direitos das mulheres relacionados com a maternidade e o trabalho.
A primeira é relativa ao Instituto Camões, porque o Estado tem de dar o exemplo. Recentemente, tivemos a
denúncia de que o Instituto Camões obriga as mulheres que são mães na primavera a escolherem entre a
licença da maternidade e o gozo de férias. Isto não é aceitável e tem de parar!
Por outro lado, Sr. Primeiro-Ministro, e porque o direito à maternidade deve ser defendido no público como
no privado, daqui a pouco vamos debater uma iniciativa do Bloco de Esquerda no sentido de que a proibição do
despedimento de grávidas se estenda também aos períodos experimentais, porque, neste País, há mulheres a
serem despedidas por estarem grávidas. Queria saber, portanto, se o Governo assume o compromisso de parar
com este abuso.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Catarina Martins, efetivamente, sabemos que a
direita tem um problema com a aritmética. Aliás, foi por isso que considerou que seria aritmeticamente impossível
cumprir-se o objetivo do défice definido na proposta de Orçamento e foi por isso também que ainda não percebeu
um outro problema aritmético, que é o da Assembleia da República não acabar no corredor que separa a
bancada do PS das bancadas que estão à sua esquerda e, porque não acaba ali, os Deputados do PCP, do
Bloco de Esquerda e de Os Verdes contam aritmeticamente para uma maioria que existe nesta Assembleia e
que afirma a direita em minoria nesta Casa.
Aplausos do PS.
Este é que é o problema político que a direita não quer assumir. A minoria em que está nesta Câmara resulta
da minoria em que está no País.
Há, de facto, uma questão com o Banco de Portugal e eu percebo bem a razão pela qual o PSD e, em
particular, o seu líder tomam tão rapidamente as dores sobre reportagens que surgem relativas à atuação do
Banco de Portugal.
Naquela reportagem, como todos teremos percebido, reportam-se a factos anteriores à designação, pelo
anterior Governo, do atual Governador. Portanto, o PSD, verdadeiramente, não vem defender o atual
Governador, o PSD vem defender-se a si próprio por ter feito a recondução do Governador apesar de tudo aquilo
que tem vindo a público e que já constava da Comissão de Inquérito.
O Governo não tem de se pronunciar sobre as decisões que foram então tomadas. Eu próprio, como é sabido,
enquanto líder do PS, pronunciei-me, na altura própria, sobre essa matéria. Hoje, como Primeiro-Ministro,
cumpre-me estritamente fazer o que qualquer Governo deve fazer, que é trabalhar de uma forma leal e
construtiva com as instituições que existem e que estão em funções.