9 DE MARÇI DE 2017
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Quem conhece as posições do Partido Socialista não espera outra coisa a não ser a rejeição da simples
manutenção do status quo, sem arrojo nem visão, e do retrocesso para um mercado comum, abandonando os
objetivos da coesão. Manter o satus quo é aceitar uma União Económica e Monetária incompleta, mais propensa
a acentuar as assimetrias do que a atenuá-las ou a suprimi-las.
A União Europeia deve, portanto, avançar.
Não é impossível que haja geometrias variáveis, com quem quiser ir mais longe em certas áreas, como já
sucede com o euro, o espaço Schengen e a política de defesa ou, no futuro, com o Gabinete do Procurador
Público Europeu.
Mas, como o Sr. Primeiro-Ministro já acentuou, essas geometrias variáveis não podem ser a regra e não
podem obedecer a uma simples lógica de diretório ou de exclusão de Estados-membros, só porque são médios
ou pequenos, ou periféricos, ou têm algumas dificuldades.
E essa União Europeia tem de avançar com equilíbrio entre várias dimensões.
Certamente, a diversificação e acentuação das ameaças internas e externas levam a que muitos cidadãos
exijam da União Europeia maior capacidade para os proteger. Quer ao nível da segurança interna, incluindo o
controlo das fronteiras, quer ao nível da defesa e da política externas, a União Europeia deve dar passos
decisivos para assumir maiores responsabilidades.
Todavia, a evolução futura não pode ser no sentido da concentração nessas funções (que, ao nível interno,
designaríamos como as clássicas funções de soberania), como decorre de um dos cenários do Livro Branco,
esquecendo a vocação da União Europeia para promover coesão, prosperidade e crescimento económico.
A essa luz, o Partido Socialista saúda a decisão da extensão do Plano Juncker, a persistência das políticas
de abertura ao exterior, designadamente através de acordos comerciais (e sublinho aqui o acordo do Canadá e
o do MERCOSUL), bem como a reiterada manifestação da intenção de completar a união bancária, de modo a
que os riscos sejam reduzidos e partilhados e a que o sector financeiro possa cumprir adequadamente o seu
papel financiador e dinamizador do investimento produtivo.
Por outro lado, apoiamos o objetivo de repartição mais equitativa dos benefícios do crescimento e de um pilar
de direitos sociais, realçamos a importância da Cimeira Social de novembro deste ano e insistimos na
necessidade do funcionamento de um mercado de energia totalmente interligado.
Uma Europa mais senhora e segura do seu projeto e do seu rumo é também uma Europa mais capaz de
levar estabilidade às suas fronteiras do leste e do sul e de receber condignamente aqueles que nela procuram
refúgio.
Assinalamos com satisfação que Portugal é um dos Estados-membros que cumpre mais rapidamente e com
qualidade as obrigações que assumiu de recolocação de pessoas provenientes da Grécia e de Itália. Do número
de pessoas que nos comprometemos a receber, 25% já estão entre nós, condignamente alojadas.
Porém, esta é uma pequena gota de água num enorme oceano. A situação do Mediterrâneo oriental parece
estável, não deixando de ser sintomático que nem sequer haja referências ao acordo com a Turquia no projeto
de conclusões que conhecemos, embora se saiba que esse acordo está a ser cumprido pelas autoridades desse
país com alguma hesitação, mas o Mediterrâneo central vive situações críticas que exigem grande empenho.
Regozijamo-nos pelo facto de a Presidência maltesa, a primeira de um país do sul da Europa desde o início de
2015, ter potenciado algumas iniciativas que permitem acorrer a questões vitais na relação da União Europeia
com o sul.
Sr. Primeiro-Ministro, deixo uma última palavra para um tema que, porventura, terá desenvolvimentos neste
Conselho Europeu, o tema da designação do presidente do Conselho Europeu.
O Partido Socialista preza a estabilidade, independentemente de posicionamentos político-partidários. Mas,
se não for possível dar esse sinal de estabilidade, é vital que a Europa escolha um estadista para o exercício
das funções de presidente do Conselho Europeu, alguém com peso institucional, internacionalmente
reconhecido, com experiência na condução dos destinos de um Estado-membro e sem aspirações imediatas a
um papel relevante na vida interna do seu país.
Em última análise, Sr. Primeiro-Ministro, é vital que seja sempre, mas sempre, um intérprete empenhado no
projeto europeu e capaz de contribuir para os enormes trabalhos que a Europa tem pela frente.
Aplausos do PS.